OS MOSAICOS BIZANTINOS DE RAVENA


Ravena é uma das grandes estrelas da Emília-Romana, coração do centro da Itália. Recebe turistas atraídos pelos célebres mosaicos bizantinos, lembrança do seu passado carimbado como a última capital do Império Romano do Ocidente, após a queda de Roma no século V. Na verdade, ela começou a ganhar poder já no século I quando o imperador Augusto construiu um porto e uma base naval na cidade vizinha de Classe e depois por quase dois séculos foi a capital do Império Romano. História não falta a essa pequena e tranquila cidade que hoje vive cheia de orgulho de seus tesouros artísticos.

Muros da Basílica de San Vitale e ao fundo Igreja de Santa Maria Maggiore, Ravena.

Por onde quer que se passe a fachada sóbria de prédios em tijolos alaranjados contrasta com a sofisticação dos mosaicos que revestem seus interiores. Eles são compostos de vidros, mármores coloridos e pedras cortadas para se juntar de tal modo que o resultado é estarrecedor.

Comecei a conhecer Ravena pelo Mausoléu de Galla Placidia. Esse é um monumento fúnebre paleocristão (arte do início do período bizantino) pertencente a Igreja Católica. Sua planta tem forma de cruz e suas paredes internas são ricamente decoradas com mosaicos declarados pela UNESCO como Patrimônio Mundial. Os mosaicos representam cenas e personagens da religião cristã. Lá dentro há três sarcófagos, um em cada extremidade dos braços da cruz com exceção da entrada. Por fora a estrutura é pequena, simples, em tijolos aparentes, mas por dentro é um belo tesouro.

Mausoléu de Galla Placidia.

Mosaico "O Bom Pastor" sobre a porta de entrada.

Cúpula do mausoléu revestida com mosaiscos que simulam um céu estrelado

Teto com vários detalhes em formas geométricas que lembram a cruz torta da suástica, que já foi usada até por Hitler, mas em sânscrito significa felicidade, prazer e boa sorte.

Outros detalhes dos mosaicos em formas de flores estilizadas com círculos concêntricos.

Ao redor das janelas que são fechadas com mármore translúcido, desenhos de veados bebendo água.

Gala Placidia era filha do Imperador Teodósio, o Grande. Nasceu em Constantinopla, no finalzinho do século IV e teve uma vida tumultuada. Foi capturada ainda jovem pelos visigodos que sitiaram Roma. Casou com um dos seus sequestradores e com isso uniu as tradições romanas e bárbaras, o que desagradou os romanos. Em seguida, seu marido foi assassinado e ela se tornou prisioneira. Então, foi obrigada a se casar com Constâncio em Ravena e juntos foram elevados à condição de Augustos, ficando em pé de igualdade com o imperador. Novamente seu marido foi morto e ela assumiu o trono como imperatriz por oito anos em Ravena, no lugar do filho que ainda era menor de idade, até ser derrotada numa campanha militar. Ficou exilada em Roma até sua morte, em 450. Os estudiosos não sabem se seu corpo está sepultado no Mausoléu Galla Placidia ou em Roma.

Adjacente ao Mausoléu de Galla Placidia fica a Basílica de San Vitale. É impressionante a escuridão dentro desses templos. A iluminação é muito reduzida e é preciso esperar até que os olhos se acostumem com a penumbra para poder explorar e aproveitar os detalhes impressionantes.

 
Basílica de San Vitale.

A Basílica de San Vitale é a obra arquitetônica mais conhecida de Ravena devido aos mosaicos de arte bizantina. Também é considerada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Ela começou a ser construída em 525, por ordem do bispo Eclésio e foi concluída em 548 já sob o domínio bizantino. Não se sabe quem foi o arquiteto responsável pela basílica. Ela combina elementos romanos e bizantinos. Tem desenho octogonal e mosaicos espetacculares no seu interior, que representam sacrifícios do Velho Testamento e retratos de quatro evangelistas. Seu valor é enorme por ser o único grande templo bizantino que permanece intacto até os dias de hoje.

 Acima, mosaico com Cristo, São Vital recebendo uma coroa de mártir, dois anjos e o bispo Eclesius que começou a construir a igreja. Nas laterais. mosaico com Justiniano I (à esquerda) e com a Imperatriz Teodora (à direita).

INGRESSO: Juntamente com a Basílica de San Vitale e com o Mausoléu de Galla Placidia fica o Museu Nacional de Ravena com uma pequena coleção de peças romanas, bizantinas, medievais e paleocristãs. Para visitar estes locais - além do Battistero Neoniano, Museu Arcivescovile e da Basílica de San Apollinare Nuovo - compra-se um bilhete único no valor de 9,50 euros que tem validade de uma semana.

Andando mais alguns quarteirões fica outro complexo fantástico com o Battistero Neoniano, a Duomo, a Torre e o Museu Arcivescovile. É incrível como tudo se parece. Mesmos formatos, mesmas cores. E, por dentro, mosaicos. 

Duomo, Torre e Battistero Neoniano.

O Batistério Neoniano é a mais antiga das construções de Ravena inscritas como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. É considerado o monumento mais bem preservado dos primeiros tempos do Cristianismo com representações de figuras humanas. Em parte foi edificado sobre uma antiga terma romana. Sua estrutura octogonal, em tijolos foi feita no século IV como parte de uma grande basílica que foi destruída em 1734. O bispo Urso iniciou as obras que foram concluídas pelo bispo Neon, daí o nome. O significado dos oito lados do batistério se referem aos sete dias da semana mais o Dia da Ressurreição

Mosaico do Batismo de Cristo, no Battistero Neononiano. Observe as figuras dos 12 apóstolos ao redor da cena central.

A cena central representa João Batista batizando Jesus Cristo que está em pé com água do rio Jordão até a cintura. Do lado direito, há um deus pagão.

Battistero Neoniano com seu formato octogonal e janelas cegas.

Também vale a pena visitar o Battistero degli Ariani que tem uma cúpula do final do século V com um mosaico dos Apóstolos, a tumba de Dante e a Basília de Sant'Apollinare.

A grande beleza de Ravena está nos detalhes, está no seu passado, nas marcas deixadas pelo Império Bizantino. É preciso circular com calma e com olhos de ver. Além disso, a cidade também tem uma mistura de ruas antigas, lojas elegantes, restaurantes gostosos e piazzas tranquilas. Vale uma passada de um dia.

Mas, a viagem pode ficar ainda melhor se der para conjugar com Bologna, Florença e Veneza. No mais, os arredores não oferecem muito encanto, apesar desse lado da Itália estar virado para o Mar Adriático. Porém, se a ideia for praia, a Itália tem lugares muito mais interessantes do que Rimini, Milano Maritima, Cervia (que ficam nos arredores de Ravena)... Opte pela Costa Amalfitana, Cinque Terre, Portofino ou pelas ilhas Sicília e Sardenha. Itália é um país encantador. Há muito que se ver, comer e beber por lá.

DISTÂNCIAS

Ravena - Bologna: 74 quilômetros
Ravena - Florença: 190 quilômetros
Ravena - Veneza: 143 quilômetros
Ravena - Milão: 294 quilômetros
Ravena - Roma: 374 quilômetros

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COMENTÁRIOS

  1. Acho que já falei isso, mas conhecer a Itália foi um sonho realizado. Claro que voltaria, para visitar outros lugares, mas os principais foram um banho de história!
    Que mosaicos fantásticos! Admiro esse tipo de trabalho, ainda mais quando é executado por pessoas talentosas.
    Beijos e bom final de semana!

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  2. Oi Gina,

    Que bom receber sua visita.

    Itália é um país fantástico. Eu adoro e sou suspeita, pois temos muitos amigos italianos e vamos com frequencia revê-los. Tudo me agrada. A história, o modo de vida, o idioma e especialmente, a culinária!!!

    Ravena é uma cidade muito interessante. Antiguíssima e super bem preservada. Vale a pena dar um pulo para conhece-la, mas não dá para deixar de fora as vizinhas Veneza e Florença.

    Um beijo

    Claudia

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  3. Claudia,

    Nunca fui à Ravena, mas teu post me fez sonhar em visitar mais uma jóia da Itália. As fotos estão incríveis! Parabéns.
    Bjos
    Ana

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  4. Ai Ana,

    A Itália é uma caixinha de surpresas. Tem tantas caras.
    São tantos lugares fantásticos. Precisamos voltar muitas e muitas vezes. Ainda tem muito que quero ver por lá.

    Beijos e ótimo final de domingo.

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  5. aClaudia, que mosaicos lindos!
    Amo a Itália. Ficamos por um mês e meio e aproveitamos muito, principalmente as comidas. O efeito colateral dessa deliciosa cozinha são os quilinhos extras ganhos durante esse período. Mas valeu cada garfada de macarrão e lambida de sorvete.
    Não sei conhece Pádova, perto de Verona. Outra cidade que vale uma passada, principalmente pelos afrescos de Giotto.
    Fazia tempo que não te visitava. Sempre é bom ler seus posts, são extremamente bem escritos.
    Um beijo, Marina

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  6. Claudia, que saudades!!!! Adorei seu comentário no post da Turquia! Realmente é um lugar lindo e tenho certeza de que vc iria adorar! Hoje publiquei o último da série! Como eu adoro mosaicos antigos, fiquei apaixonada por esse relato com fotos lindas de Ravena! Ah, vc me faz ter cada vez mais vontade de conhecer o mundo!!!!! Viajar é bom demais, né? Um beijão!

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  7. Ah, Marina!
    Engordar em viagem não tem problema!!! Faz parte!!!rs
    E se a comida for italiana melhor ainda. Gosto de tudo. Em qualquer lugar que se entre come-se bem!!!! Hum. Só de lembrar já fico com saudades!!!
    E vocês? Quase de volta!!??
    Obrigada pela visita ao blog.
    Beijos

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  8. Katia,

    A Turquia tem me deixado encantada. Vejo as fotos e fico doida!!!!
    Espero que em 2013 eu consiga conhecer. Esse ano já não dá mais... tenho muitas coisas programadas por outros cantos! rs.
    Turquia que me aguarde. hahaha
    Vou correr para ler seu post.
    Beijos

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  9. Claudia,

    A Itália realmente tem mil caras, mil cores, mil estilos!

    Adorei conhecer Ravena e seus mosaicos attraves do seu blog.

    Beijos,
    Andressa

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  10. Andressa,

    A Itália é uma das minhas grandes paixões da Europa. Gosto do país em qualquer estação. Neve e muito vinho no inverno, praias e ilhas incríveis no verão, cidades para percorrer a pé no outono e na primavera. Tem de tudo e num território relativamente pequeno. Perfeito!

    Já estou esperando o próximo relato sobre o Tahiti!!!

    Um beijo.

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  11. uau que trabalho maravilhoso, incrivel, amei !
    bjs

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  12. Oi Claudia
    Que lugar! Os mosaicos são belíssimos e de uma delicadeza sem igual!
    Há alguns anos aprendi a fazer mosaicos com pedacinhos de madeira, quando morei na Bahia. Fiz alguns itens de decoração para dar de presente a amigos. Realmente é uma delícia de fazer! Mas esses de azulejos são sublimes!!!!!
    Beijos

    Bia
    www.biaviagemambiental.blogspot.com

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  13. Gabi,

    Cada viagem tem seus encantos. A Itália é toda linda.

    Adorei as fotos de vocês em Cancun.

    Beijossss

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  14. Ah, Bia!

    Quer dizer que você também tem habilidades manuais. Que bacana! Fazer mosaicos deve ser muitíssimo trabalhoso. É um trabalho delicado e de muita paciência. Acho que eu não conseguiria fazer. rs.
    Adorei ver você por aqui.
    Um beijo
    Claudia

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  15. claudia ,
    Que post maravilhoso ! parabéns !
    Bj
    MT

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  16. MT,

    Esse mundão é cheio de lugares lindos, Não é? É preciso viajar muito para darmos conta das nossas curiosidades por aí. rs

    Beijos

    Claudia

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  17. Olá! Estou a horas lendo seus posts sobre a Itália. Adorei! Gostaria de saber se consigo conhecer Ravena fazendo bate-volta de trem ou de ônibus partindo de Jesi em Ancona?
    Agradeço desde já as dicas.
    ABS

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  18. Chris,

    Provavelmente, sim.

    Trens são ótimos na Europa. A distância é de 170 Kms de Ancona à Ravena.Você vai levar ao redor de uma hora e meia a duas horas para ir. Se sair cedo consegue aproveitar bem o dia.

    Abraço

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  19. Conheci Ravenna faz um ano, estava em Bologna e fiz um batevolta de trem, cidade adorável, mosaicos lindos,foi Capital da Itália 3 vzs: última capital Imp Romano Ocidente, depois capital Reino Ostrogodo da Itália e por fim Capital do Exarcado Bizantino na Itália....essAs Igrejas de lá são simples e rústicas por fora pque construídas pelos Godos já convertidos ao cristianismo e Bem depois redecoradas internamente pelos Bizantinos com esses maravilhosos mosaicos...

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    Respostas
    1. Angelo,

      Ravenna é realmente espetacular. Tem uma história importante e um legado arquitetônico maravilhoso. Uma visita que vale a pena.

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