ZÂMBIA PEDE PASSAGEM


Quanto mais viajo, mais entendo o poder que o turismo tem de deixar boas marcas em um destino e de levar gotas de esperança, especialmente no que se refere a contribuição para uma sociedade melhor e quanto ao legado para as gerações que estão por vir. Por isso, incluí no meu roteiro um dos países mais pobres da África, onde a maior parte da população vive abaixo da linha da pobreza, com pouco acesso a água potável e rede sanitária, a Zâmbia. Subnutrição, analfabetismo e aids são alguns dos problemas que assombram o país. Tomei o rumo do lodge Tongabezi para deixar minha pequenina contribuição àquelas pessoas tão amáveis, que me ensinaram muito sobre a arte de viver.

Vilarejo de Simonga, Zâmbia.

Essa ex-colônia britânica, antigamente chamada de Rodésia do Norte, tornou-se independente em 1964. Enfrentou dificuldades econômicas e políticas até a década de 90 quando conseguiu um pouco mais de estabilidade. Foi exatamente aí que o lodge Tongabezi fincou sua pedra inaugural na margem mais fotogênica do rio Zambeze, onde vivem dezenas de hipopótamos.

Tongabezi Lodge às margens do rio.

O que parecem pedras, muitas vezes são hipopótamos.

A exportação de cobre e cobalto representa a principal fonte de renda da Zâmbia. Além disso, a agricultura de subsistência faz parte da vida de 70% dos zambianos. 

O turismo também vem trazendo boa contribuição por ter se beneficiado com os respingos dos infortúnios do vizinho Zimbábue, época em que os visitantes migraram para os safaris e para explorar as cataratas do lado da Zâmbia.

    
A ponte sobre as Cataratas de Vitória marca a fronteira entre Zâmbia e Zimbábue.

Vale dizer que o país tem 20 parques nacionais que abrigam muita vida selvagem e tem extensos rios, como Kafue, Luangwa e Zambeze. Nesse último, estão as maiores quedas d’água da África, as Cataratas de Vitória, principal atrativo natural da região, na fronteira Zâmbia-Zimbábue e que atrai atenção dos aventureiros de plantão com a piscina natural Devil’s Pool debruçada num despenhadeiro.

Encarei a loucura de mergulhar na Devil's pool.

O país é imenso, tem 3 vezes o tamanho do estado de São Paulo e a vizinhança é grande. A Zâmbia faz fronteira com Congo, Angola, Namíbia, Tanzânia, Moçambique, Malaui e Zimbábue. Interessante que com todo esse entrecruzamento de povos, o país contabiliza oficialmente mais de 70 grupos e mais de 20 dialetos, e não enfrentou conflitos étnicos violentos como o que dizimou Ruanda. Teve conflitos sim, mais leves, nas décadas de 70 e 80, e por isso mesmo o país manteve as fronteiras fechadas ao turismo por um bom tempo. Agora a tranquilidade reina. As pessoas são doces. Recebi sorrisos amáveis por onde passei e me senti segura. Claro que circulei sempre durante o dia nos parques e nas cataratas, acompanhada pela equipe do hotel.

Mapa da Zâmbia.

Escolhi o lodge Tongabezi, do Green Safaris Foundation, exatamente por ter uma fundação que abraça vários projetos envolvendo as comunidades do entorno. Um deles é a Tongabezi Trust School, também chamada de Tujatane, que significa em uma das tantas línguas locais “Vamos dar as mãos”. A escola foi criada na vila de Simonga pelos proprietários do grupo, em 1996, com o objetivo de levar educação e qualidade de vida às crianças carentes que vivem na zona rural, na proximidade da escola.

Emocionante visitar essa escola e ver a alegria no rosto de todos.

Tujatane nasceu com uma turma de 15 crianças e hoje acolhe mais de 280 alunos com idades de 3 a 17 anos, tendo um programa alimentar que garante café da manhã e almoço todos os dias. Vários alunos já concluíram sua formação e se tornaram profissionais importantes no país graças ao generoso patrocínio de doadores do mundo todo. Se você também quiser colaborar, eles têm um programa internacional para auxílio de U$1.250 para dar suporte, por um ano, para uma criança que irá interagir com seu “anjo da guarda” enviando fotos e e-mails durante a jornada. Basta entrar no site do Tongabezi e falar com Vicki ou Ivney.

Com Vicki e Ivney.

Outros projetos do Green Safaris estão relacionados ao auxílio de jovens mães solteiras, cursos profissionalizantes, reflorestamento e conservação dos parques nacionais.

Conte com minha experiência para planejar sua viagem. Entre em contato pelo email claudia@viajarpelomundo.com. Seu roteiro será personalizado e organizado por mim em parceria com uma agência de luxo da minha confiança. Enquanto eu faço a curadoria, a agência cuida de toda a operação oferecendo suporte 24 horas por dia.

Como já falei em outras matérias, essa viagem para a África teve alguns percalços até finalmente virar realidade. Tudo começou em 2020 quando eu estava com a mala na mão, saindo de casa, para embarcar com um dos meus filhos para Zâmbia, Zimbábue, Botsuana e África do Sul. Três horas antes do voo, o mundo parou. A pandemia fez o favor de congelar meus planos. 

Fiquei completamente desolada quando recebi uma mensagem da companhia aérea comunicando o cancelamento do voo. Minha reação imediata foi correr para o computador e cancelar as reservas. Os bilhetes aéreos foram reembolsados assim como quase todos os hotéis, menos um: Tongabezi. Na hora fiquei perplexa e chateada. Mas, por fim, essas reservas adiadas e não canceladas serviram como gatilho para que a viagem fosse reprogramada para outubro de 2022. E ouso dizer que acabou sendo uma das viagens mais marcantes da minha vida. O roteiro inicial foi acrescido por mais dois países, Tanzânia e Ruanda. Foram 30 dias inesquecíveis.

Honeymoon House, a dica de milhões no Tongabezi.

O Tongabezi é um ecolodge bastante premiado na Zâmbia. Foi citado em 2022, pela Condé Nast Traveler, como um dos 20 melhores hotéis de safari da África. Ele está a doze quilômetros das Cataratas de Vitória, numa curva belíssima do rio Zambeze, pertinho da pequenina cidade de Livingstone (capital histórica da Rodésia do Norte). É cercado de tranquilidade, tendo uma mistura perfeita entre romance, aventura, conforto e responsabilidade socioambiental.

Tongabezi lodge visto do rio Zambeze.

No total, o Tongabezi conta com cinco bangalôs e sete casas com decoração de interiores personalizada, cada uma delas é diferente e totalmente conectada com a cultura local. Ao fazer a reserva, vale olhar cuidadosamente os detalhes de cada acomodação.

Maravilhosa a Tree House.

Inicialmente escolhi a Tree House, por ser aberta. Eu queria viver uma experiência bem rústica na Zâmbia. Mas, assim que entrei no quarto fui recebida por uma família de macacos bagunceiros. Resolvi trocar para o Honeymoon House (por sorte estava vago), pois fiquei com receio de que eles roubassem minhas roupas da mala e meus pertences (sim eles são ladrõezinhos!).

Luz, espaço amplo e segurança na Honeymoon House.

Sem macaquinhos para bisbilhotar o quarto.

Que mudança acertada! Um bangalô gigantesco, em estilo boho-chic, fechado (ufa!), com super ar condicionado, numa área totalmente privada, de frente pro rio, com deque de madeira composto por um belo espaço para refeições, banheira em área aberta e piscina, tendo um pôr do sol surreal na linha do horizonte.

Ao chegar dos passeios, a banheira externa esperava sempre pronta.

E esse era o visual que fazia companhia.

Para completar, peças de artesanato local e móveis charmosíssimos em madeira, com decoração em tons de azul turquesa e branco, sendo tudo arrematado por um telhadão de palha lindo. O banheiro mais parecia um salão de festas, imenso, com portas de vidro voltadas para a varanda. Que espetáculo! Um bom hotel faz toda a diferença para uma viagem se tornar marcante.

  
Massagem e banheira para relaxar no Tongabezi.

O lodge fica numa área muito ampla, as casas são longe umas das outras e a privacidade é total. Piscinas, na área comum, são duas e a academia de ginástica é muito bem aparelhada. Ninguém fica parado. Além disso, há vários cantinhos com salões abertos cheios de sofás convidativos, alguns de frente pro rio, outros cercados de árvores e no final do dia uma lareira é acesa para o sunset.

Privacidade e muito verde no Tongabezi.

Fogueira todos os dias para aquecer o entardecer.

Como fiquei 3 noites no hotel, fui presenteada com uma noite no lodge Sindabezi, numa ilha particular, a 10 minutos de lancha. Foi uma experiência espetacular. 

Sindabezi, outro lodge do Green Safaris.

Bangalô Sindabezi fechado apenas por cortinas de lona.

O bangalô em que fiquei hospedada era muito rústico e todo aberto. Durante a noite, ao longe, os rugidos dos leões e os grunhidos dos hipopótamos apimentavam a imersão na savana. Sem contar que havia um morcego morador do bangalô que nos deixou ligados por um bom tempo. Mas ele se comportou bem e nós também. Noite inusitada.

  
Para uma experiência bem rústica, Sindabezi.

Outro ponto alto tanto no Sindabezi como no Tongabezi é a cozinha. Mesmo se tratando de um lugar tão isolado, os pratos são deliciosos e feitos com carinho. Os legumes e verduras vem diretamente da horta do lodge.

  
Cozinha deliciosa e fresquíssima.

Depois do café da manhã, servido cada dia num local diferente do hotel, era hora da saída para o primeiro passeio do dia. Todo nosso roteiro foi definido após o check in e o mesmo motorista nos acompanhou o tempo todo. 

  
Na Zâmbia conhecemos a vida como ela é.

Tínhamos como foco na Zâmbia visitar os vilarejos do entorno, conhecer alguns dos projetos bancados pelo lodge como a escola infantil, curso profissionalizante, posto de saúde e vilarejos.

Posto de saúde no vilarejo de Simonga.

Em termos de natureza fizemos safaris tanto por terra (no Parque Nacional de Mosi-oa-Tunya) como de barco (pelo rio Zambeze) para observar a fauna em seu habitat natural. A proximidade com os animais é incrível. 

Os hipopótamos passam praticamente o dia todo dentro da água e só levantam a cabeça quando o barco se aproxima. São os animais mais temidos da África. 

Safari de barco ao pôr do sol.

Hipopótamos como companheiros de safari.

Por terra fizemos um incrível walking safari (sim a pé!) para ver os rinocerontes brancos, que na verdade não são brancos, são cinzas. O que os diferencia é o formato quadrado dos lábios. Dois rangers nos escoltaram por menos de 500 metros e de repente meu coração quase saiu pela boca quando vi uma família de rinocerontes brancos repousando na sombra das árvores. Eles são imensos, pré-históricos e assustadores, mas são doces. 

  
Acompanhada na Zâmbia para um safari no Parque Nacional Mosi-oa-Tunya.

Quando o ranger se aproximou, um dos animais levantou a cabeça olhando na nossa direção e congelei de medo. Logo o rapaz começou a emitir sons semelhantes aos deles, como se estivessem conversando. Imediatamente o rinoceronte baixou a cabeça autorizando nossa presença. Surreal! Aqueles animais tão raros (infelizmente estão em extinção por conta de alguns países asiáticos que pagam uma fortuna pelo chifre e assim estão acabando com a espécie) bem na minha frente. De chorar de emoção.

Rinocerontes brancos.

Um dos momentos mais especiais na África.

Uma das aventuras mais loucas e também mais disputadas da África é o mergulho na Devil's Pool, uma piscina localizada na borda das Cataratas de Vitória, que despencam a 108 metros de altura. O passeio é feito por uma empresa particular que se encarrega de tudo desde o transporte de lancha, guias especializados, permanência de aproximadamente uma hora na piscina e lanche de encerramento. Três horas é o tempo de duração do passeio que pode ser feito de meados de agosto até o início de janeiro quando o nível da água está mais baixo. É perigoso. Já houve acidente fatal. É preciso muito cuidado! Mas vale encarar. 

Primeiro há uma travessia pela água com correnteza...

... e então lá está a insana Devil's Pool.

A Zâmbia foi o país da África em que tivemos contato mais estreito com as pessoas em suas comunidades graças ao trabalho espetacular do Tongabezi em seus tantos projetos sociais. Foram dias lindos! Sabe um daqueles lugares que nos envolvem de tal maneira e transformam nosso olhar para a vida a ponto da despedida ser sofrida? Foi assim. Funcionários extremamente gentis, sorridentes, bondosos, sempre querendo agradar mesmo que haja dificuldades no caminho. Todos têm energia contagiante. São receptivos e entendem o valor do turismo. Quando o querido Jato acenou para a despedida, com aquele sorrisão feliz, meus olhos ficaram cheios d'água. Eu não estava pronta para ir embora. Espero que um dia as estradas me conduzam novamente à Zâmbia.

Até a volta Jato!

INFORMAÇÕES IMPORTANTES

QUANDO IR

Os meses de maio a outubro são os melhores para visitar a Zâmbia por estar fora do período chuvoso e ter temperaturas um pouco mais amenas. Minha viagem aconteceu no final de outubro e peguei dias lindos de sol.

COMO CHEGAR

Cheguei no aeroporto de Livingstone, na Zâmbia, vindo da Etiópia. 

QUE MOEDA USAR

Kwacha Zambiano. Mas como cartão de crédito é aceito nos mercados de artesanato e como fiz todas as refeições no próprio hotel, nem precisei trocar dólares pela moeda local. Devil's Pool e o Walking Tour paguei em dólares.

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS 

Passaporte válido por no mínimo 6 meses após a chegada e visto com entrada dupla para poder atravessar a fronteira Zimbábue-Zâmbia. O visto deve ser feito online . Certificado de vacinação contra febre amarela e covid-19 também devem estar em dia.

ONDE FICAR HOSPEDADO

Tongabezi e Sindabezi foram escolhas muito acertadas que recomendo. Para aqueles que viajam com crianças vale dar uma olhada no The Royal Livingstone by Anantara, pois tem zebras e girafas caminhando pelo gramado. Outra boa opção é o Sanctuary Retreat. Já, o Radisson Blu fica no parque Mosi-oa-Tunya, pertinho de Livingstone e tem excelente custo-benefício.

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