JALAPÃO, O OURO DO TOCANTINS


Impossível negar um chamado do Jalapão quando se tem espírito aventureiro correndo pelas veias. As paisagens do Tocantins repletas de cachoeiras, rios, chapadas, cânions, dunas, fervedouros, campos de capim dourado e veredas têm o poder de atrair os apaixonados pela natureza, categoria na qual me incluo. Nem pensei duas vezes quando uma expedição com a Korubo bateu à porta. Imediatamente arrumei a mala e parti para minha segunda aventura pelo diamante bruto que é o coração do Brasil.


Dunas do Jalapão.


RUMO AO JALAPÃO


O Jalapão não é uma cidade, como muita gente pensa, engloba áreas de preservação ambiental belíssimas espalhadas por 34 mil quilômetros quadrados, no centro-leste do Tocantins. É imenso! Maior do que o estado do Sergipe. Faz fronteira com Bahia, Piauí e Maranhão. A região começou a ganhar estrutura turística depois de 2001, com a chegada da Korubo. Mas daí a ganhar notoriedade passaram-se mais alguns anos até servir como pano de fundo para a novela “O outro lado do paraíso”, da TV Globo. Foi quando saiu definitivamente do anonimato e virou destino de sonho.


Com minha companheira nessa viagem, Juliana Nakad.

Palmas é a porta de entrada do Jalapão. A jovem capital do estado do Tocantins, nascida em 1989, está a 300 quilômetros do acampamento da Korubo. Embarquei em uma expedição de 6 dias, num programa all inclusive que contemplava todos os traslados (desde a chegada no aeroporto até a partida), todas as refeições, passeios, três noites no acampamento do Jalapão e duas noites no hotel Girassol Plaza, em Palmas (uma no dia da chegada e outra na partida).


Overland 4X4, Korubo.

Em vez de rodar de cidade em cidade num roteiro circular de 1.250 quilômetros (como fiz na viagem de estreia ao Jalapão em 2016), dessa vez mantive uma base fixa no acampamento da Korubo, num lugar belíssimo, às margens do rio Novo e a partir dali a cada dia eu aproveitava um pedacinho da região que é vasta e tem estradas dignas de Rally dos Sertões. 

 

Vale lembrar que essa não é uma viagem para ser realizada de modo independente. Há quem encare. No entanto, as distâncias são longas, as estradas são ruins, não há muitas placas de sinalização, quase não há sinal de wi-fi pelo caminho e você rodará quilômetros sem cruzar com ninguém. Portanto, é preciso estar cercado de pessoas que conheçam muito bem os caminhos desse lugar - tão lindo quanto inóspito - para evitar perrengues. Com a Korubo basta subir no caminhão e mergulhar numa aventura cheia de paisagens de tirar o fôlego. A empresa é pioneira em expedições no Jalapão, tem 23 anos de experiência e acaba de abrir um novo acampamento nas Serras Gerais. Mas esse é um assunto para outra viagem, que obviamente já está na mira. 


Mapa do Jalapão.

Tudo é curioso e peculiar no Jalapão. A começar pelo nome, que vem de uma raiz usada com fins medicinais pelos quilombolas desde que se estabeleceram na região, a tal da “jalapa”. Bem inocente. Mas, a danada da raiz também serve para colorir a cachaça da moçada de um tom alaranjado quando fica em infusão. Daí vem o nome: “Jalapinha” ou “Jalapão”, dependendo do tamanho do trago. Vamos de “Jalapão”. 


A jornada iniciou as 8 horas da manhã, em Palmas. Com um grupo de sete pessoas, parti do hotel Girassol Plaza, em um ônibus com ar condicionado. Em três horas chegamos em Ponte Alta, onde o almoço estava sendo servido. Enquanto isso, as bagagens eram transferidas para um caminhão - agora sem ar condicionado, mas com grandes janelões e uma área aberta no segundo piso sobre a boleia - que seria nosso companheiro durante toda a expedição.


Uma experiência off road no coração do Brasil.

AS CORES DA TERRA


Ali nos despedimos do asfalto, do sinal do telefone celular, da internet e do conforto urbano. Ponte Alta é um povoado pequeno e singelo, tem menos de 8 mil habitantes, mas é cercado por belezas naturais incríveis. O Cânion Sussuapara, por exemplo, fica a apenas 15 quilômetros da cidade e foi a primeira parada do roteiro. Aliás, uma paradinha que caiu muito bem depois dos sacolejos pela estrada de terra e do calor do cerrado. O pequeno cânion fica escondido em meio à vereda, entre paredões que chegam a 12 metros de altura. O acesso é fácil. Depois de andar alguns passos e descer por uma escada de madeira chega-se a um caminho estreito acompanhado por um córrego e por uma cortina de vegetação. Ao fundo, uma cascata de água cristalina espalha boa energia e convida ao deleite. Um dos lugares mais estupendos do Jalapão.


  
O espetacular cânion Sussuapara.

No final do dia, ainda a tempo de curtir um pôr do sol lindo, chegamos no acampamento da Korubo, um oásis de paz esparramado por uma grande propriedade à beira do rio Novo com 17 barracas acomodadas na sombra das árvores, sobre deques de madeira, sendo que 2 delas são para famílias e comportam até 4 pessoas. As barracas dispõem de um pequeno quarto com duas camas de solteiro e ao fundo têm lavabo com pia e vaso sanitário. A iluminação dos quartos é bem suave, recomenda-se levar lanterna. Já, a estrutura para banho é coletiva tendo uma ala masculina e outra feminina, tipo vestiário de clube. Painéis solares são as responsáveis pela energia, portanto tem água quente para o banho. No entanto a Korubo não oferece toalhas nem shampoo, sabonete e condicionador. É preciso organizar a mala com atenção. Se por um lado o conforto é limitado em alguns aspectos, por outro o luxo fica por conta da imersão na natureza.


Tenda Korubo.

Mergulho na natureza.

As refeições são servidas num simpático restaurante, em uma grande tenda com teto de palha, protegida por telas e com piso de areia. As batidas de um gongo chamam os hóspedes para o café da manhã, almoço e jantar em uma grande mesa compartilhada. Algumas vezes o almoço é servido fora do acampamento, durante os passeios. A comida é caseira, servida na forma de buffet e muito gostosa. Ao lado do refeitório fica o redário para aquele descanso merecido, além da prainha de rio, com estrutura de espreguiçadeiras e barracas.


Redário e prainha do acampamento da Korubo.

O dia seguinte era aguardado com ansiedade pois incluía fervedouros e cachoeiras. A primeira parada foi no delicioso Fervedouro do Ceiça. Sabe o que é um fervedouro? É a nascente de um rio subterrâneo que não tem espaço para dar vazão a água e então com a pressão exercida pela água que escapa do lençol freático por uma fenda forma uma espécie de piscina natural onde brotam borbulhas que fazem com que as pessoas flutuem em vez de afundar na água. Uma experiência indescritível. 


Fervedouro do Soninho, exclusivo da Korubo.

Depois do Ceiça (onde cada grupo pode ficar apenas 15 minutos pois as filas de espera são enormes) fomos ao Fervedouro do Soninho, que é exclusivo da Korubo, portanto, sem hora para sair. Aliás, só saí para almoçar quando caiu uma chuva forte que foi como uma benção para a seca que o cerrado estava enfrentando, inclusive com vários pontos de incêndio. Quando a chuva acalmou tomamos o rumo da Cachoeira do Rio Formiga, a mais bonita do Jalapão e uma das mais aclamadas do Brasil. Suas águas caem sobre uma piscina cristalina com dois metros de profundidade e oito de diâmetro. O tom azul é tão intenso que parece artificial. Sua coloração é fruto da areia calcária depositada no fundo. Esteja preparado para encontrar muita gente pois esse é um dos locais mais visitados do Jalapão tanto pelos locais como pelos turistas. A sequência para encerrar esse dia lindo foi banho, jantar e sono. Pois logo mais, o chamado do guia José, nosso despertador diário, seria antes do sol nascer.


Cachoeira do Rio Formiga com seu azul inacreditável.

Valeu acordar com as maritacas. No mirante da Korubo fomos brindados por um amanhecer de cores mágicas. Dali seguimos por uma trilha de 6 quilômetros entre campos repletos de capim dourado e buritis até encontrar o rio onde iniciamos uma flutuação incrível. Com a forte correnteza da água não há animais que possam causar medo como jacarés e sucuris. Só o canto dos pássaros e o barulho do vento acompanharam o percurso. 


As cores do cerrado.

Depois de caminhar por 6 km o prêmio foi uma flutuação no rio Novo.

Nesse dia o almoço foi servido no próprio acampamento da Korubo enquanto esperávamos a hora certa de partir para o sunset nas famosas Dunas Douradas do Jalapão formadas pela erosão das rochas de arenito de quartzo da Serra do Espírito Santo. O parque só abre depois das 16:30 pois antes disso a areia fica muito quente. O pôr do sol é fantástico! Os bancos de areia cortados por riachos vão ganhando tons alaranjados mais vibrantes a cada minuto. Um espetáculo digno de nota. Voltamos extasiados com a magia do entardecer.


Dunas do Jalapão.

Depois do jantar, uma grande fogueira iluminava a clareira do acampamento enquanto o guia José desfiava um rosário de histórias sobre o Jalapão. Algumas assustadoras, outras curiosas. Corre à boca miúda que entre os anos 70 e 80, uma figura controvertida movimentava o cerrado com plantações duvidosas. 


Quem era? Pablo Escobar, o rei do narcotráfico. Dizem que ele escolheu um local de difícil acesso e de baixíssima densidade demográfica, próximo de Mateiros, onde chegava em seu jatinho particular, numa pista de pouso (pasmem) de 1200 metros - que ainda existe - e contratava mão de obra barata para plantar o que chamava de “jojoba”. Cobria tudo com tela para não “dar bandeira” e pagava muito bem para que seus funcionários trabalhassem felizes e para que ele não fosse denunciado. Assim foi vivendo entre suas lavouras de cannabis sativa e uma refinaria de cocaína que compartilhavam espaço sem a menor cerimônia com o que já foi o hotel mais luxuoso da região - a Pousada do Jalapão - que continua em pé, mesmo que meio abandonada, contando sua história. Hoje, apenas um segurança cuida da pousada e oferece a estrutura dos banheiros para quem visita a Cachoeira da Velha. A icônica cachoeira impressiona com uma queda de 20 metros de altura tão forte que tem o apelido de “mini Iguaçu”. Visitamos rapidamente a Cachoeira da Velha no último dia, antes do retorno a Palmas e foi exatamente lá que almoçamos depois de ter dado um mergulho numa prainha onde foi gravado “Deus é Brasileiro”. 


Cachoeira da Velha.

Certamente "Deus é Brasileiro"! Pois caprichou muito no Jalapão. Um destino perfeito para quem ama ecoturismo, não se incomoda em transpor longas distâncias e gosta da simplicidade da terra. A exuberância da natureza virgem é o melhor dessa aventura.


Valei-me Deus!

MELHOR ÉPOCA

 

O Tocantins é quente durante o ano todo. A temperatura costuma ficar entre 25 e 35 graus. Vale lembrar que há um período chuvoso, de dezembro a maio; e outro de seca, de junho a novembro. Junho e julho são os meses mais movimentados. 

 

ROTEIRO RESUMIDO

 

Dia 1. Chegada em Palmas, jantar no restaurante Tabu, pernoite no hotel Girassol Plaza.

Dia 2. Trajeto Palmas – Korubo com parada para almoço e Cânion Sussuapara. 

Dia 3. Fervedouro da Ceiça, Fervedouro do Soninho (exclusivo da Korubo) e Cachoeira do Rio Formiga

Dia 4. Nascer do sol no mirante da Korubo, caminhada de 6 km pela propriedade, flutuação no rio Novo (também na propriedade), e final de tarde nas dunas.

Dia 5. Parada rápida na Cachoeira da Velha, mergulho numa prainha do rio Novo e trajeto de volta Jalapão-Palmas. Pernoite no hotel Girassol Plaza, em Palmas.

Dia 6. Retorno Palmas-Rio


Obrigada pela companhia @natripdaju e que venham as Serras Gerais.
Agradeço a Korubo e AD Comunicação e Marketing pela experiência incrível.


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