ATERRISSANDO EM YANGON, A PORTA DE ENTRADA DO MIANMAR


Basta andar alguns minutos pelas ruas para perceber que Yangon não é propriamente uma das cidades asiáticas mais encantadoras. Com 5 milhões de habitantes, a maior cidade do Mianmar e antiga capital, se divide entre o caos urbano estabelecido pelas centenas de carros que tumultuam as ruas pontilhadas de prédios decadentes da era colonial inglesa e a devoção incondicional que reina nos templos budistas sagrados. Se por um lado a beleza e a organização não são os pontos altos saiba que a espiritualidade latente e a receptividade das pessoas são emocionantes.

Centro de Yangon.

Yangon me recebeu de braços abertos exatamente na hora do rush. Foi mais de uma hora de taxi até chegar ao hotel. Os taxis funcionam direitinho no aeroporto e o valor é correto. Tanto que combinei com o próprio motorista do aeroporto para esticar até o principal templo da cidade, Shwedagon, depois de fazer o check in e deixar as malas no hotel.

 Sule Shangri-La Yangon.

Ele foi muito gentil. Esperou, nos levou até lá, contou sobre sua vida difícil, ajudou a comprar os ingressos, solicitou na bilheteria roupas apropriadas para a visita ao templo, aguardou no carro e depois de uma hora de visita nos conduziu novamente ao hotel Sule Shangri-La Yangon. Cobrou um valor justo.

Experiências positivas tornam os destinos especiais. E digo que todas as pessoas que cruzaram meu caminho no Mianmar deixaram boas lembranças.

Uma das tantas imagens do Templo de Shwedagon.


A espiritualidade emana por todos os cantos no templo Shwedagon.

Fiz a coisa certa. Portanto, recomendo que comece a explorar a cidade pelo seu principal cartão–postal, o Templo Shwedagon. Ele é imperdível! Nasceu no ano 588 a.C., é o símbolo nacional e maior tributo ao budismo Theravada. O complexo é formado por um conjunto de construções milenares com muitos altares que mostram a devoção à Buda. Há mais de cem estátuas, templos belíssimos e estupas de diversos desenhos cobertas em ouro. Ele brilha dia e noite há quase 2.500 anos no alto de uma colina. É citado como uma das maravilhas do mundo religioso. A estupa central em formato de sino tem 100 metros de altura, é folhada à ouro e tem cerca de 5 mil diamantes incrustados sendo que um deles tem 76 quilates. De uma riqueza inacreditável!

O sagrado Templo de Shwedagon.

Rapazes fazem suas oferendas no templo.

Oferendas com flores e frutas fazem parte das homenagens e se referem ao conceito budista que diz que “nada é eterno”. A fumaça dos incensos leva os pedidos até Buda. Quando você visitar o templo, procure o altar relativo ao dia da semana que você nasceu e cumpra o ritual lavando a imagem de Buda com água em abundância para que sua alma seja purificada. Um local memorável e de uma energia fantástica.

Se puder visite Shwedagon em dois horários, ao raiar do dia e ao entardecer, pois a luz muda completamente.


A pequena monja no ritual de purificação.

A ex-capital Yangon nasceu ao redor desse templo, no século VI como um pequeno vilarejo de pescadores, às margens do rio Yangon e se tornou um importante centro de peregrinação no país. Segundo reza a lenda, o templo foi construído por um rei para guardar alguns fios do cabelo de Buda. A história vem passando de geração em geração e perpetuando a crença do povo.

Vale lembrar que a capital foi transferida recentemente para Naypyidaw, que não tem apelo turístico. A cidade planejada está localizada 320 quilômetros ao norte de Yangon onde nada existia. Foi fundada em 2005 pelo governo e vive cercada de mistérios. Dizem que Naypyidaw é uma cidade de repartições públicas fora do alcance dos radicais de Yangon e Mandalay e que a distância geográfica serve de escudo para proteger o governo do seu próprio povo.

Prédio residencial no centro de Yangon. 

Yangon tem se esforçado para atrair turistas desde 2012 quando o poder militar começou a ser transferido para os civis e várias missões diplomáticas foram realizadas. A cidade ainda precisa de boas injeções de dinheiro para conseguir renascer. Os prédios herdados do período da colonização britânica continuam contando sua história, mas estão mal conservados. As fronteiras do país ainda vivem momentos de instabilidade devido às tensões religiosas, filosóficas, étnicas e políticas. Yangon felizmente está longe dessas áreas. Então, aproveite e circule a pé ou de taxi em segurança. Vale lembrar que ao escurecer as ruas não tem boa iluminação. Você corre o risco de tropeçar e levar um tombo.

Secretariat.

Ao longo do dia visite o prédio chamado de Secretariat, antiga sede do governo colonial onde foi assassinado o general Aung San, em 1947. Ele foi o pai da independência da Birmânia e pai de Aung San Suu Kyi, a principal líder oposicionista do governo. Uma mulher forte que ficou em prisão domiciliar por duas décadas em nome do seu envolvimento com a política pois foi eleita pelo povo nas primeiras eleições livres, em 1990 e os militares se recusaram a entregar-lhe o poder. Ela recebeu Prêmio Nobel da Paz em 1991, prêmio esse que mais tarde lhe foi retirado sob acusação de ter traído os valores que um dia defendeu. As questões políticas são muito complexas no Mianmar.

Pagode Botataung.

A partir daí ande mais alguns quarteirões até chegar ao Pagode Botataung que fica na beira do rio e foi construído na mesma época em que o Shwedagon, há mais de 2.500 anos quando era chamado de Kyaik-de-att. Em 1943, sua estupa principal foi atingida por uma bomba durante a Segunda Guerra Mundial. Quando a guerra terminou ele foi  reconstruído. Dentro do templo você pode comprar flores, coco e frutas, principalmente banana, para fazer uma oferenda para apaziguar os espíritos birmaneses travessos chamados de “nats”.

Altar de oferendas no Pagode Botataung.

Ao sair do templo passe pela caótica avenida Strand e observe os antigos prédios da Alfândega (Custom House), o Correio Central (Post Office) e a Embaixada Britânica (British Embassy). Eles guardam a memória do Período Colonial Inglês. Nessa mesma avenida fica o clássico The Strand Hotel que abriu as portas em 1901 por iniciativa dos irmãos armênios Sarkies, os mesmos donos do Hotel Raffles de Cingapura. O hotel continua sendo um dos mais elegantes de Yangon.

The Strand Yangon.

Também visite o Museu Nacional localizado na rua Pyay perto do Parque do Povo. Ele tem um bom acervo de peças recolhidas do país todo, o principal destaque é o Trono do Leão. Ele abre das 10 as 16 horas com exceção das segundas-feiras.

Um pouco mais distante fica o Pagode Chauk Htat Gyi que guarda uma imagem centenária de um Buda Reclinado de 72 metros de comprimento, uma das maiores imagens do Mianmar, feita em 1907.

O Buda Reclinado de Chauk Htat Gyi estava sendo restaurado e a imagem estava coberta quando estive no templo. Consegui ver apenas o entorno.

É interessante o caminho até lá pois fica numa área residencial distante do agitado centro de Yangon, muito original.

Ao andar pelos bairros residenciais de Yangon, a simpatia das pessoas é encantadora.


No entanto alguns costumes do povo nos causam estranheza.

No caminho de volta pare para almoçar no palácio Karaweik. Ele fica na beira de um lago e tem o formato de um barco. Além de ser lindíssimo, ali funciona um restaurante de comida birmanesa com música tradicional. Vá de taxi. É barato e sempre tem algum por perto.

Palácio Karaweik.

Músico do restaurante do Palácio Karaweik.

Reserve um tempo para circular pelo mercado local Bogyoke. Tem dezenas de lojinhas de artesanato, roupas, comidas e muitos monges em busca de donativos, inclusive crianças. É um lugar interessante mesmo que você não queira comprar nada. Vale dar uma caminhada e sentar para observar a vida local.

Mercado Bogyoke.

Pequenas monjas circulando pelo mercado em busca de donativos.

Se tiver mais um dia em Yangon vá até o Templo da Pedra Dourada (Golden Rock) que fica a mais ou menos 5 horas de Yangon. É um longo caminho para chegar no alto da montanha, onde a pedra sagrada de 15 metros de circunferência por 8 metros de altura desafia as leis da gravidade ao se manter em equilíbrio na borda de um penhasco. Eles dizem que ela se está nessa posição por guardar alguns fios do cabelo de Buda e que quem consegue chegar até a pedra 3 vezes por ano alcança riqueza e paz na vida.

Templo da Pedra Dourada.

HOTEL SULE SHANGRI-LA YANGON

Como o trânsito é caótico em Yangon a primeira dica é ficar hospedado num hotel bem localizado para facilitar a locomoção pela cidade. Nesse quesito o hotel Sule Shangri-La Yangon já sai na frente. É um oásis de paz e conforto no coração da cidade. Dá para ir andando até os prédios coloniais de arquitetura inglesa, aos mercados e a alguns templos, como o Sule Pagoda. Uma vantagem e tanto.

Lobby do hotel Sule Shangri-La Yangon.

Esse grande hotel de 474 apartamentos abriu as portas em 1996, inicialmente como Traders Hotel. Em 2014, já totalmente renovado após três anos de obras, passou a operar como Sule Shangri-La Yangon. O nome do hotel remete à sua localização perto do grande pagode homônimo, de mais de 2.000 anos, na Sule Pagoda Road.

Yangon hoje é a capital econômica do Mianmar e o hotel tem o perfil ideal para atender a essa demanda.

Os quartos tem decoração que faz referência ao passado mas com padrão moderno desenhado por um arquiteto de Singapura. Janelões amplos com bela vista da cidade, TV de tela plana, wi-fi gratuito, frutas frescas sobre a mesa e serviço atencioso agradam na chegada.

 Um bom serviço torna a hospedagem especial. Olha quantos mimos no quarto.

Na decoração dos quartos predomina a madeira escura que contrasta com as cores fortes dos quadros. Cama aconchegante, com lençóis confortáveis, banheiros modernos com amenities L’Occitane.

Conforto não falta nas suítes do Sule Shangri-La Yangon.

Minhas amenities favoritas: L'Occitane. E balinhas para alegrar.

Para ter mais exclusividade opte por um quarto nos andares reservados ao Horizon Club Lounge, do 18o ao 22o andar. Os hóspedes dessa ala tem algumas comodidades como check in feito diretamente no apartamento, possibilidade de late check out, café da manhã servido num andar separado, snacks e bebidas servidos ao longo do dia, além da possibilidade de tomar o café da manhã servido habitualmente no lobby.

Café da manhã no hotel Sule Shangri-La Yangon.

Outro ponto alto do hotel é o restaurante Summer Palace de cozinha chinesa com toque birmanês, o melhor restaurante que experimentei em Yangon.

Restaurante Summer Palace, em Yangon.

O hotel fica anexo ao Square Mall, um shopping de três andares com algumas lojas simpáticas e um bom restaurante italiano. E também têm um bom Health Club.

Health Club no Sule Shangri-La Yangon.

ONDE COMER BEM EM YANGON

Rangoon Tea House, um clássico na cidade. Vive lotado!

Karaweik Palace, um lugar cheio de história, legal para experimentar a cozinha tradicional birmanesa.

Comida tradicional birmanesa.

Casa Mia, um italianinho simpático para quando der vontade de comer algo mais básico, no Square Mall.

Summer Palace foi onde comi melhor na cidade, tem uma mistura de cozinha chinesa com produtos locais. Fica no hotel Sule Shangri-La Yangon.

Restaurante Summer Palace.

BONS HOTÉIS EM YANGON

Sule Shangri-La Yangon
Belmond Governor’s Residence
The Strand Hotel
Pan Pacific

ENFIM

Yangon é o principal retrato da mudança que o antigo Reino da Birmânia vem experimentando. A principal cidade do Mianmar e ex-capital, está iniciando uma fase de abertura e renascimento depois de ter sofrido por meio século com um regime militar violento. Ensaia os primeiros passos na direção de uma democracia e começa a olhar para o futuro, mas sem esquecer do seu passado. Entre ruas abarrotadas de carros circulam pessoas sem pressa vestindo seus longyis, o traje típico nacional, uma espécie de pareô, num belo encontro do passado com o presente. Yangon é a porta de entrada perfeita para esse diamante bruto que é o Mianmar.


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