TIERRA CHILÓE, UM OÁSIS NA PATAGÔNIA INSULAR CHILENA

 

Aterrissar em Chiloé é a certeza de descobrir um pedacinho intocado do Chile. O arquipélago é formado por mais de 40 ilhas idílicas, aninhadas entre o norte da Patagônia e o sul da região de Los Lagos. Fiquei curiosa desde a primeira vez em que ouvi falar sobre o destino. E como lugares genuínos tem um imã que me atrai, quando dei por mim já estava chegando. Menos de duas horas de voo foram o suficiente para cobrir os 1.200 quilômetros que separam a cosmopolita capital Santiago da pitoresca cidade de Castro, que ganhou seu primeiro aeroporto no final de 2012. Antes disso, a conexão do continente com o arquipélago era feita somente pelo mar, de ferry, entre Pargua e Chacao. Se por um lado, o isolamento era uma realidade até poucos anos atrás, por outro, a cultura nativa se manteve preservada, sendo hoje seu grande trunfo.



Chiloé em destaque no mapa.

A principal ilha do arquipélago é a Ilha Grande de Chiloé, cujo nome significa “lugar das gaivotas” na língua dos povos indígenas mapuches. No entanto, essas simpáticas aves marinhas são apenas uma das espécies que compõe a cena. Pinguins, pudús, lobos marinhos, patos, maçaricos, baleias-azuis, cisnes-de-pescoço-preto, raposas-de-Darwin (sim, o naturalista Charles Darwin esteve em Chiloé, em 1834, e se surpreendeu com a diversidade da fauna) e tantos outros habitantes povoam o mosaico formado por paisagens vulcânicas entremeadas por florestas, pântanos, colinas verdejantes e penhascos debruçados sobre o mar do Pacífico, nas bordas da Patagônia Norte. 


Pudu, um dos tantos animais que vivem no arquipélago de Chiloé.

As maiores cidades de Chiloé são Ancud, a antiga capital do arquipélago desde sua fundação em 1767 até 1982; e Castro, a capital atual da província e meu destino-base, no fantástico hotel Tierra Chiloé vencedor da premiação Reader’s Choice Awards 2023, pela Condé Nast Traveler, como nono colocado entre os melhores resorts da América do Sul.


Tierra Chiloé, um tesouro no arquipélago chileno.

É impressionante como o Tierra Chiloé combina elegância, conforto e cultura local, com uma experiência imersiva na natureza exuberante do arquipélago. O hotel nasceu em 2017, nos arredores de Castro com 12 acomodações e pouco tempo depois ganhou uma nova ala de 1.300 metros inspirada nas tradicionais palafitas da ilha. No total, hoje, são 24 apartamentos de padrão cinco-estrelas, com vista deslumbrante para o mar, em uma propriedade imensa com direito a spa, duas piscinas sendo uma interna aquecida e outra externa em temperatura ambiente, rotas para caminhada, cavalgada e horta orgânica para atender aos hóspedes.


Piscina externa do Tierra Chiloé.

A arquitetura dá um toque de charme especial ao Tierra Chiloé tanto no que se refere ao projeto de exterior, com muita madeira e vidro para garantir o aconchego e convidar a natureza a entrar, como no design de interior projetado por Alexandra Edwards e Carolina Delpiano. A decoração mescla em total sintonia peças feitas por artesãos locais com obras de grandes nomes da arte chilena. O resultado é singular. Traduz o espírito do arquipélago nas cores e texturas de todos os espaços. Impossível não perceber, logo na entrada, os imensos lustres feitos em palha e o grande mapa do arquipélago pintado a mão pela artista Claudia Peña, que mostra em detalhes a geografia das ilhotas, além de trazer imagens dos animais da região. O pequeno “mercado” ao lado do bar, também salta aos olhos ao mimetizar um mercadinho local com artesanato e produtos típicos da região.


El Mercado faz conexão com a cultura local.

Ainda tomada pelo impacto da beleza do hotel andei dois passos até encontrar o bartender Manuel que trazia na bandeja três copinhos de pisco sauer para brindar minha chegada a esse cantinho tão remoto do Chile. Sentei sobre uma cadeira adornada por um pelego de ovelha para degustar lentamente os sabores limão, calafate e mel orgânico. Difícil dizer o favorito. Mas, por ser um fruto nativo com propriedades medicinais, o calafate saiu na frente.


Um dos tantos cantinhos idílicos do hotel Tierra Chiloé. 

Começava ali uma jornada de quatro dias de imersão na mitologia, na culinária, no ecossistema e na cultura chilote moldada por séculos de isolamento. Outrora considerada uma parte atrasada do Chile, agora Chiloé encanta exatamente pelas tradições dos povos originários (huilliches, cuncos, payos e chonos) mantidas a sete chaves. Como exemplo, vale citar o “curanto”, prato tradicional feito de carnes e legumes cozidos sobre pedras quentes, em um buraco aberto na terra, e coberto por uma grande folha chamada de “nalca”, a qual fui apresentada durante um trekking de 8 quilômetros em Duhatao. Obviamente, não pode faltar no “curanto” alguma das tantas variedades de batata da região. Ouvi dizer por lá que são mais de 200 tipos. Surpreendente!


As batatas fazem parte da gastronomia de Chiloé.

Vale lembrar que o Tierra Chiloé traz incluído no valor da diária, não só as refeições, drinques e vinhos chilenos, como também um cardápio de excursões que podem ser de meio dia ou de dia inteiro, listadas por nível de dificuldade. Como se trata de um arquipélago, optei por iniciar com uma navegação no barco Williche (embarcação do próprio hotel) em uma rota que incluía as belíssimas ilhas de Chelin e Quehui. O sol brilhou ao longo do percurso deixando tudo ainda mais bonito.


Barco Williche, do Tierra Chiloé.

Chelin é um pequeno vilarejo onde vivem 200 pessoas em antigas casas tradicionais. Ali visitei a igrejinha neoclássica de Chelin. O arquipélago tem ao redor de 70 igrejas de madeira, sendo 16 delas reconhecidas como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco. Chelin é uma delas. As igrejas foram construídas durante o período em que os jesuítas estiveram no arquipélago. Misturam características europeias e indígenas, tendo desenho singelo e peculiar. São pequenas casas com uma torre ao centro. Lindas e cobertas de valor histórico. 


Igreja de Chelin, patrimônio mundial da Unesco.

Dali, o barco continuou até Quehui onde houve um tempo de parada dedicado para a prática de caiaque, stand up paddle e passeio de Zodiac, seguido de almoço a bordo. No caminho de retorno, uma chuva forte fez questão de lembrar que por ali as quatro estações do ano convivem lado a lado, diariamente.


Passeio de caiaque na ilha de Quehui.

De volta ao hotel, a ordem é relaxar no UMA Spa ou na deliciosa banheira do quarto que tem um janelão com vista tão deslumbrante que mais parece um quadro. Então, é hora de empunhar uma bela taça de vinho chileno em frente a lareira e fechar o dia com um excelente jantar. A gastronomia é ponto alto dos hotéis da rede Tierra.


Tierra Chiloé.

Em estilo rústico, elegante e minimalista, os quartos se espalham pelos dois andares do hotel, com acomodações impecáveis. Eu precisava uma bela noite de sono pois a trilha que escolhi para o dia seguinte era bem puxada. 


Os janelões dos quartos do Tierra Chiloé trazem o mar até os olhos.

Partindo da baía de Duhatao percorri 8 quilômetros em 4 horas, por dentro de uma floresta fechada, selvagem, repleta de subidas e descidas em terreno irregular, tendo como recompensa alguns mirantes de tirar o fôlego e uma caminhada final pela praia da ilha de Aulen onde um barco aguardava para nos conduzir até um piquenique surpresa. Como não amar?


Baía de Duhatao.

No dia seguinte optei por mergulhar nos mitos e tradições do arquipélago. Parti dos estábulos, a cavalo e percorri os antigos caminhos dos povoados insulares para apreciar a beleza natural e a vida rural. Fácil perceber como a terra e o mar dão tudo que os habitantes de Chilóe precisam. Um arquipélago farto e cercado de lendas que misturam crenças pré-colombianas e europeias. La Pincoya é a figura mitológica de uma sereia que ora abençoa os locais com peixes em abundância ora causa destruição com tempestades quando está de mau humor. Esses personagens lendários fazem parte da identidade cultural do povo chilote desde a culinária até os festivais folclóricos, passando pela agricultura e pelo artesanato. 


Um mergulho nas tradições de Chiloé.

Só me resta dizer que o conceito de oásis patagônico foi atualizado com nota máxima nessa viagem ao arquipélago de Chiloé, no sul do Chile, com hospedagem espetacular no hotel Tierra Chiloé e profunda conexão com a natureza. 


Um oásis chamado Tierra Chiloé.

INFORMAÇÕES IMPORTANTES

 

COMO CHEGAR

A Latam e a Sky Airline conectam o Brasil com o Chile num voo de pouco mais de 4 horas. De Santigo do Chile até Castro são mais duas horas de voo e então a equipe do hotel aguarda os hóspedes no aeroporto.

 

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

O Chile faz parte do Mercosul, assim sendo o passaporte não é obrigatório podendo ser apresentado apenas o RG original emitido há menos de 10 anos, e claro, em bom estado de conservação. Mesmo assim, eu prefiro viajar sempre com passaporte.

 

O QUE LEVAR NA MALA

As temperaturas em Chiloé costumam ser baixas, especialmente no inverno, mas não chega a nevar no arquipélago. Leve roupas para se vestir em camadas durante as expedições. Calça e camiseta térmica são necessárias caso viaje na época mais fria do ano. Adicione um casaco com tecnologia para frio e calça impermeável na bagagem. Não esqueça de levar luvas e gorro. Pode ser necessário. Botas impermeáveis confortáveis são importantes para encarar as caminhadas. Também leve roupas de banho para a piscina do hotel e saiba que dentro do Tierra Chiloé a temperatura é sempre agradável.

 

QUANDO IR

De outubro e maio, as temperaturas são mais amenas, sendo que o verão vai de dezembro a março. No inverno as mínimas costumam ficar em 50C. No entanto, saiba que o clima é bastante instável nessa região e você provavelmente terá sol e chuva todos os dias. Os meses de dezembro e janeiro são os mais concorridos.


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COMENTÁRIOS

  1. Realmente a viajem a esse destino é obrigatória bebendo na fonte abundante da natureza, desbravando o desconhecido que alimenta a alma com magia naturais e sonhos.

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    1. Um destino lindo e um hotel de tirar o fôlego. Vale totalmente!

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