QUE TAL ENTRAR NO MARROCOS PELA EFERVESCENTE MARRAKECH?


Com quase mil anos de história, Marrakech é uma bela porta de entrada para o reino encantado do Marrocos. É uma das quatro antigas cidades imperiais do país - além de Fes, Rabat e Meknès – e guarda um verdadeiro mosaico de contrastes que seduz os visitantes com sua arquitetura, seus mistérios, seus mercados, seus aromas e suas cores. A Medina de Marrakech é cercada por dezenove quilômetros de muros terracota que seguem firmes na intenção de proteger seu passado. “Porta do Sul”, “Cidade Vermelha”, “Pérola do Sul” apelidos não faltam para designar a cidade mais visitada do Marrocos, onde o velho e o novo se misturam em sintonia.

FORTE DESDE O INÍCIO

Marrakech nasceu numa encruzilhada de rotas de nômades e caravanas de mercadores. Ao longo da vida mesclou traços berberes, árabes, africanos e influência europeia. Tem personalidade forte e sedutora. Foi fundada em 1062 por um sultão berbere da Dinastia Almorávida. Não demorou muito para se tornar a capital do Reino do Marrocos e revelar um grande centro artístico e cultural do mundo islâmico. O povo berbere já vivia a mais de 4 mil anos no Marrocos e Senegal, antes mesmo da chegada dos árabes. Dá para imaginar a riqueza do patrimônio histórico guardado na Medina de Marrakech (centro antigo fortificado) como a praça Jamaa El Fna, as tumbas da Dinastia Saadiana, os souqs da Medina, o Palácio Bahia, o Palácio El Badii, a madrassa Ben Youssef; alguns deles tombados pela Unesco.

Palácio El Badii.

UMA CIDADE DE CONTRASTES

Hoje, Marrakech tem um centro antigo agitadíssimo na Medina localizada no interior das muralhas rosadas, repleto de legados históricos e souqs labirínticos; e uma parte nova, Gueliz e Hivernage, do lado de fora das muralhas, com excelentes restaurantes, hotéis luxuosos, casas noturnas e lojas de marcas internacionais, como Louis Vuitton e Montblanc. Seus contrastes são sua marca registrada. Marrakech tem o dom de agradar facilmente qualquer tipo de visitante.

Passado e presente convivem em harmonia em Marrakech.

POR ONDE COMEÇAR?

A MEDINA

A Medina é o coração histórico de Marrakech. Circular por essa região é uma festa para os olhos e uma verdadeira volta no tempo. A praça Jamaa El Fna é o epicentro nervoso da Medina e por onde você provavelmente vai iniciar sua caminhada. Todos os dias, centenas de marroquinos e turistas passam pela praça de nome sinistro “Assembleia dos Mortos”, pois ali eram executados os criminosos. Mas, hoje a praça se enche de vida mais e mais conforme as horas do dia vão passando. Ao entardecer é quando ferve com o Mercado Noturno. Nunca vi tanta gente reunida numa praça só! Desde mulheres de burca apenas com os olhos à mostra até ocidentais de cabelos ao vento empunhando curiosas suas câmeras fotográficas.

Praça Jamaa El Fna.

Caminhar por ali faz você imaginar que está num set de filmagem tal o burburinho e a singularidade. Encantadores de cobras tentam encantar os turistas para que deixem uns dirhams (o dinheiro marroquino), adestradores de macacos fazem o possível para chamar atenção, artistas locais capricham nas performances, tatuadoras de hena mostram suas habilidades sentadas debaixo de singelas barracas. Tem caça-turistas espertos para todo lado. Mas, não ouse sair fotografando a esmo esse cenário. Os cliques devem ser previamente autorizados e pagos. Sem alguns trocados, nada feito. Além das performances também dá para tomar um dos sucos de laranja mais doces do mundo nas barraquinhas da praça, um tradicional suco de romã, comer um punhado de tâmaras, experimentar uma sopa afrodisíaca de mini escargots, quem sabe algum outro prato marroquino típico como um “tajine” ou “cuscuz”, e até mesmo comprar alguns produtos medicinais feitos a base de ervas. Tem de tudo, literalmente! No passado, era ali que as caravanas paravam quando atravessavam o deserto.

Quando a noite cai inicia o Mercado Noturno e então o movimento aumenta assustadoramente na praça Jamaa El Fna. 

Um bom lugar para ver esse panorama borbulhante à distância é o Le Grand Balcon du Cafe Glacier, um bar numa das esquinas da praça, com um rooftop bagunçado e perfeito para uma pausa, para belas fotos e para aguardar o pôr do sol. Para entrar você paga 2 euros (20 dirhams) ou compra alguma coisa para beber. A disputa por uma mesa é garantida. Um momento emocionante é quando as mesquitas anunciam a hora da reza (são cinco chamados ao dia). Nessas horas a movimentação da praça para imediatamente e o silêncio toma conta. De um respeito impressionante.

EXERCITANDO O PODER DE NEGOCIAÇÃO NOS SOUQS

A partir da praça, os souqs se espalham pelo interior da Medina. É por esses labirintos que você vai exercitar todo seu poder de barganha, eventualmente degustando um chá de hortelã. Negociar nesses mercados é uma arte.


O emaranhado dos souqs toma conta da Medina.

A Medina é dividida por setores conforme o que produz: roupas, babouches, materiais de construção, especiarias, objetos de palha, cerâmica, alimentos e por aí vai. É preciso atenção para não se perder. Muita gente contrata um guia para circular pelas ruelas. Mas, vamos combinar que se perder entre tantas cores e cheiros é até divertido.

 É um bom lugar pra gente se perder (ou se achar).

Nos limites da Medina vale a pena dar uma olhada nos Kaftans do Karim Bouriad (que produz peças vendidas inclusive nas feirinhas de Ibiza e St. Tropez), nas lojinhas de roupas mais espertas como a Moor, Maroc n Roll e Akbar Delights, nas babouches do Chez Mourad.

Kaftans do Karim Bouriad.

Para roupas mais selecionadas confira as boutiques do Royal Mansour e do La Mamounia ainda na Medina. Quando cansar faça uma pausa para almoçar no rooftop do Nomad, no Café des Épices ou no Terrace des Épices. No andar térreo do restaurante Nomad tem uma lojinha de decoração e objetos de cozinha chamada Chabi Chic muito simpática. No mais, é circular e pechinchar.

Café des Épices.

MESQUITA KOUTOUBIA

As negociações nos souqs são interrompidas cinco vezes ao dia pelos chamados para oração. Quando o som ecoa das mesquitas muitos comerciantes fazem uma pausa, fecham as portas, ou apenas apagam a luz do seu estabelecimento e partem para a reza. Uma das principais mesquitas de Marrakech é a Koutoubia. Com uma torre de 70 metros, ela marca a silhueta da cidade desde o século XII. Mas, saiba que a entrada é restrita aos fiéis, muçulmanos. Os demais visitantes poderão apenas apreciá-la pelo lado de fora e curtir seus jardins. Ela fica a poucos metros da praça Jamaa El Fna.

Mesquita Koutoubia.

TUMBAS DA DINASTIA SAADIANA

A mesquita Kasbah leva às Tumbas da Dinastia Saadiana. O sultão Ahmed Mansour ordenou a construção de mais de 150 tumbas suntuosas, ainda no século XIV dedicadas a sua família e aos empregados. O local só foi descoberto e aberto ao público em 1917. As doze colunas de mármore Carrara do mausoléu do sultão, a tumba de sua mãe e de seus filhos são os principais destaques.

PALÁCIO EL BADII

O patrimônio de Marrakech é espetacular. O Palácio El Badii também foi construído pelo sultão Ahmed Mansour. Atualmente, está em ruínas. Mesmo assim, é suntuoso e foi considerado um dos palácios mais bonitos do mundo. Dizem que foi construído com mármores italianos e materiais vindos da Índia, comprados com o valor pago pelos portugueses para resgatar os capturados depois da Batalha de Alcácer-Quibir. Merece uma visita.

Palácio El Badii.

MADRASSA BEN YOUSSEF

Pertinho dali, fica a antiga escola de islamismo Madrassa Ben Youssef, construída pelo Sultão Abdullah Ali Ghalib. Ela foi fundada no século XVI e se manteve em funcionamento até 1962. Essas escolas denominadas de madrassas tinham a intenção de difundir as leis islâmicas e os ensinamentos do Alcorão entre jovens muçulmanos. Muros simples escondem essa preciosidade dentro da Medina. Seu interior é marcado por detalhes tão delicados e ao mesmo tempo suntuosos que impressionam: pisos em mármore italiano, paredes esculpidas em cedro e mosaicos de cerâmica espetaculares. No andar superior balcões de madeira acolhem os 132 pequenos quartos que conseguiam acomodar ao redor de 800 alunos que ali viviam.

Madrassa Ben Youssef.

PALÁCIO BAHIA

Numa área imensa de oito hectares foi construído o Palácio Bahia, que significa “Belo” e é realmente um belo exemplar da arquitetura marroquina, do século XIX. Ali  viveu o sultão Ahmed Ben Musa com suas 4 esposas e 24 concubinas, num prédio de 150 quartos ricamente decorados. No harém, o sultão era o único homem com permissão para entrar, além dos músicos, que tinham que ser cegos. As áreas abertas são cheias de fontes e jardins pois esses eram os únicos espaços onde as escolhidas do sultão podiam circular. Elas eram proibidas de participar da vida pública. Dizem por lá que ele tinha tanta fama de ser mesquinho e tirano que após sua morte tudo foi saqueado imediatamente. Por isso, o palácio não tem nenhum mobiliário.

Palácio Bahia...


... E seus detalhes arquitetônicos.

PS: Ao lado do portão de acesso ao Palácio Bahia procure pela Herboriste de Marrakech, uma farmácia que produz medicamentos com ervas naturais e onde encontrei o melhor óleo de Argan do Marrocos. É uma cooperativa feminina. Endereço: 15 Rue du Domaine, El Mellah. Telefone: (00212) 524390506

 Herboriste de Marrakech.

JARDIN MAJORELLE

Fora da Medina você vai encontrar uma cidade moderna cheia de belas surpresas. Um dos destaques é o Jardin Marjorelle, onde viveu o pintor francês Jacques Majorelle, de 1923 a 1962, num estúdio em estilo Art Deco com paredes pintadas da famosa cor “azul majorelle” e cercado por um belíssimo jardim tropical. Após sua morte, o local ficou abandonado por um tempo até ser comprado por Pierre Bergé e Yves Saint Laurent. A influência de YSL foi afortunada para o jardim que hoje é um dos principais cartões-postais de Marrakech. Simplesmente espetacular. O contraste das plantas com os espelhos d’água e com as cores produz um efeito ímpar. Em 2008, com a morte de Yves Saint Laurent, Pierre Bergé doou o Jardin Majorelle para a Fundação Pierre Bergé – Ives Saint Laurent. É um daqueles lugares de onde você não quer ir embora. Também visite a charmosa lojinha e o Museu Berbere. Já, a casa do casal não é aberta para visitação. Ao lado, acaba de abrir o imperdível Museu Yves Saint Laurent que merece uma visita. Também aproveite para circular pelas lojinhas da região que são excelentes, a alguns passos do jardim.

Um jardim peculiar entre cores vibrantes.

Jardin Majorelle.


Boutique Majorelle.

MUSEU YVES SAINT LAURENT

A relação do estilista com o Marrocos é tão estreita a ponto de suas cinzas terem sido jogadas no Jardin Majorelle. O museu revela com perfeição o casamento desses dois universos complementares: a moda de YSL e sua vida no Marrocos. O museu é lindo tanto por fora como em relação ao acervo. Tem o formato de um cubo, em tom terracota que remete a textura de alguns tecidos. Lá dentro, 5 mil peças da alta costura dividem espaço com acessórios, croquis e fotografias. Uma das salas é escura e tem um jogo de luzes incrível. Pena que nada possa ser fotografado. O museu também tem uma bela biblioteca, um café e uma lojinha. É lindo! Abriu as portas em outubro de 2017. Novidade fresquinha.


O imperdível Museu YSL, de Marrakech.

ONDE COMER

No almoço vale experimentar o Nomad (Place des Épices), Café des Épices (Place des Épices) ou o Terrace des Epices quando você estiver circulando pela Medina. São informais, bem descontraídos, no meio da bagunça.

Para jantar escolha o badalado Comptoir Darma (av. Echouhada Hivernage) que tem apresentação de dança a partir das 22 horas (precisa de reserva), o libanês Azar (Rue de Yougoslaive), o marroquino famoso Dar Yacoult, o fashion Bo & Zin, o Dar Moha de cozinha marroquina sofisticada na antiga casa de Pierre Balmain ou o francesinho Café de La Post.

Comer bem em Marrakech é muito fácil.

PARA TOMAR UM CAFÉ SEM PRESSA

Sugiro uma pausa no Le Jardin Secret, um riad-museu, com um jardim lindo, de uma paz celestial dentro da confusão da Medina. Rue Mouassine 121.

Le Jardin Secret.

PARA TOMAR UM DRINK AO ENTARDECER

Indico o Arkech, num rooftop super simpático praticamente ao lado do restaurante Comptoir. Vale tomar um drink no Arketch e jantar no Comptoir. Uma dobradinha perfeita.

ONDE FICAR

Fora da Medina indico totalmente o hotel-oásis Amanjena, a 8 quilômetros de distância do burburinho de Marrakech. Espetacular, numa área imensa, com poucas acomodações espalhadas entre palmeiras e espelhos d’água. O serviço é impecável. Tem dois restaurantes excelentes (marroquino e japonês) e um campo de golfe com 21 buracos, sem falar no spa maravilhoso. O hotel serviu como pano de fundo para a filmagem de Sex and the City 2, além de ter sido escolhido por David Beckham para comemorar seu aniversário.

 Amanjena.

Dentro da Medina há dois hotéis grandes e badalados: o Royal Mansour, considerado o mais luxuoso da cidade, tendo acomodações de no mínimo 180 metros quadrados  espalhados por riads de 3 andares e o tradicional La Mamounia com seu famoso jardim.

Royal Mansour. 

La Mamounia.

Fora da Medina, mas na borda das muralhas dê uma olhada no Sofitel, The Pearl, Novotel.

Também vale a experiência de ficar hospedado num dos tantos riads marroquinos, antigos palácios com pátios internos, que foram transformados em hotéis. Dê uma olhada no L'Hotel com apenas 5 acomodações. Optei por ficar num riad quando estive na cidade de Fes.

PARA AQUELAS COMPRINHAS 

Além das citadas acima vale conferir:

Panier Marocain - Original Marrakech. Para comprar bolsas e cestas de palha. Dê uma olhada no link paniermaroc.com/panier-en-pompon-marocain-marrakech.php Telefone: +212 666 366 082 Souq Tala 50.

Boutique Lalla Marrakech. Para bolsas de couro e de tecidos rústicos. 35 Boulevard Mansour, Guéliz. Dê uma olhada no Instagram @lallamarrakech

La Maison Bahira. É uma cooperativa comandada por Marion Théard com toalhas e artigos bordados à mão em linho (Societe Marion Théard Handycraft). 10, rue Hafid Ibrahim, Hivernage, Residence Prestige.

Mustapha Blaoui. Para belos objetos de decoração. 144 Arset Aouzal, Bab Doukkala, Medina. Telefone: +212 524 385 240 Dê uma olhada no site mustaphablaoui.com

Magasin Berber, de Mustapha Ouizid. Para joias berberes. 41 Souk Labbadine. Em frente, dê uma olhada no Chez Faouzi também com joias berberes, loja de Mghatete Faouzi. 32-34 Souk Labbadine.

L'Ourika, Karim Bouriad, Moor, Akbar Delights, Maroc and Roll para Kaftans.

No mais é caminhar, se perder pelos souks e se encantar com tanta diversidades de kaftans, babouches, cestas, bolsas, joias berberes, cerâmicas...

Marrakech é uma explosão de cores.

DICA DE UMA MOTORISTA (SIM, UMA MULHER)

Khadija Ramoun. e-mail: didija18@gmail.com Telefone: +212 0667952430 ou +212 0608998562

ENFIM...

Marrakech foi uma bela surpresa. Um sonho realizado. Ótima porta de entrada para o Marrocos, com um aeroporto lindo, moderno e novinho. Me senti segura. Andei de taxi sem problema nenhum (basta combinar o preço antecipadamente). Vivi dias inesquecíveis numa cidade que equilibra o novo e o velho em sintonia. Não foi à toa que muitos artistas europeus se estabeleceram na cidade. Vá sem medo!

Cinco dias são o tempo ideal para conhecer essa antiga cidade imperial 
que deve constar na sua wish list.

Booking.com

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COMENTÁRIOS

  1. Sou fascinada por essa cultura, as antigas tradições ainda tão presentes, não é só fantasia para chamar turista...lindo post!!
    Assalamu alaikum!!

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    1. Fernanda,

      Eu amei o Marrocos. Fazia um tempão que vinha tentando fazer essa viagem.
      Desejo um Feliz natal para você e sua família.

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  2. Cláudia, quando eu era criança havia uma propaganda do departamento de turismo do Marrocos que me fascinava. Eu viajava junto pelas cidades mostradas e sonhava em conhecê-las. Com o tempo, esse sonho ficou adormecido mas agora foi reavivado pelos seus belos posts. Parabéns pelo lindo trabalho! Com certeza o Marrocos será um destino futuro meu. Em março irei para o sudeste asiático e já li tudo sobre esta região no seu blog. Um beijo!

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    1. Aparecida,

      O Marrocos é um país fascinante. Recomendo que visite se puder. Você vai adorar!

      Bj

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  3. Oi Cláudia, muito obrigada pela postagem, maravilhosa! Estou pensando em passar 3 dias em Marraquech em fevereiro. Você recomenda algum guia para acompanhar nos passeios? Achou a cidade segura?? É possível andar de táxi tranquilamente por lá?
    Um grande abraço e um feliz ano novo,
    Letícia

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    1. Leticia, usei um guia por 2 horas no primeiro dia e achei muito chato. Rsrs Cancelei o guia e saí sozinha o tempo todo com meu marido. Muito tranquilo, bem policiado é fácil demais. Táxis são super tranquilos se o preço for acertado antes! Bj

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  4. Cláudia, você ficou hospedada no La Mamounia ou é possível entrar para conhecer?

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  5. Relato incrível! Já tomei nota e mal posso esperar para chegar a minha vez de ver isso tudo de perto!!

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