O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO SACHSENHAUSEN


Por Claudia Liechavicius

O relógio da torre central marcava exatamente onze horas e cinco minutos, do dia 22 de abril de 1945, quando teve início a “marcha da morte”. Mais de 30.000 prisioneiros precariamente vestidos, debilitados física e psicologicamente foram postos em fila e ordenados a seguir para o norte da Alemanha, no frio, em direção ao nada. Foram três dias, andando sem parar, sem comer, sem descansar e sem rumo. Os que não tinham mais forças para acompanhar o grupo iam sendo executados a sangue frio pelo caminho. O objetivo era que não restasse ninguém para contar a história daqueles dias sombrios.


Uma visão geral do campo de concentração era possível a partir da "Torre de Comando A". De lá os prisioneiros eram vigiados constantemente pelos soldados alemães. O relógio, continua sinalizando o horário exato em que Sachsenhausen foi evacuado e teve início a "marcha da morte".

Sachsenhausen foi o primeiro de uma série de campos de concentração construídos para liquidar em massa uma parte da humanidade. Recebeu esse nome devido à região onde estava localizado. Sachsenhausen era uma pacata região nos arredores da cidadezinha de Oranienburgo, a 35 km de Berlim. Hoje, é um lugar onde o sol não tem permissão para brilhar e o desolamento toma conta de quem se aventura a entrar.

A sensação que se tem ao andar pelo campo de concentração é de profunda tristeza. Ninguém fala alto, ninguém sorri e o sol tem vergonha de se mostrar. Um memorial extremamente alto foi construído atrás da Casa dos Comandantes para deslocar a atenção dos visitantes a um ponto distante das atrocidades ali cometidas. No monumento, triângulos vermelhos simbolizam a bravura dos prisioneiros políticos.

Supõe-se que mais de 200 mil cidadãos tenham sido capturados pelos nazistas inclusive mulheres, idosos e crianças, ao longo de nove anos. Metade morreu de fome e doenças como pneumonia, pois usavam apenas um pijama para trabalhar em serviços pesados e ao relento, em dias extremamente frios. Os presos também eram submetidos a experimentos médicos e muitos morriam de infecção generalizada. Outros 50 mil foram mortos brutalmente, fuzilados ou em câmaras de gás, entre 1936 e 1945, por serem contra a situação política da Alemanha ou simplesmente por serem considerados biologicamente inferiores, como os judeus, homossexuais, pobres, bêbados, ciganos e religiosos.

No museu de Sachsenhausen está exposto o pijama listrado usado pelos prisioneiros no campo de concentração.


Aqui ficavam as câmaras de gás e de fuzilamento. Quem era trazido para esse local achava que vinha a uma consulta médica, recebia roupas novas e entrava numa espécie de ducha para "relaxar da viagem". Mas, na verdade os presos estavam entrando numa viagem sem volta. Paredes com camadas duplas evitavam que o som das mortes escapasse, além disso, uma música era mantida constantemente em volume alto.

As ruínas dos fornos de cremação provocam um dos momentos mais pesados da visita a Sachsenhausen. Depois de mortos, os corpos eram cremados.


Muitos eram atraídos ao local achando que se tratava de um asilo do governo e que seriam tratados dignamente. A rádio do governo prometia abrigo e alimentação a todos. Uma placa na entrada ainda traz ironicamente os dizeres “O trabalho liberta”. Mas, ao chegar lá, uma grande surpresa esperava. Cada um recebia apenas um pijama listrado e a certeza da iminência da morte. Um triângulo em cores diferentes indicava a razão do aprisionamento. Triângulo vermelho para presos políticos, amarelo para judeus, roxo para religiosos, rosa para homossexuais, preto para os marginalizados socialmente.

Na entrada do campo de concentração, um portão de ferro com a frase "O trabalho liberta" recepcionava os prisioneiros.

A Estação Z era para onde centenas de prisioneiros eram levados de caminhão para serem fuzilados pelos soldados. O nome foi dado como um brincadeira mórbida - condizente com o campo de concentração - a entrada dos prisioneiros era pela Torre A e a saída pela Estação Z. Ou seja, ninguém deveria sair dali com vida.

Nunca houve registro de fuga do local. Pois, além da zona neutra, onde quem pisasse era eliminado, ainda havia arame farpado, cerca elétrica e guardas treinados para a crueldade. Impossível escapar! Quem tentasse fugir era morto na praça central, na frente de todos os outros presos para servir de exemplo.


Muitos presos querendo poupar seu sofrimento entravam de propósito na zona neutra, onde eram fuzilados. Mas, quando os soldados percebiam que eles queriam ser mortos, atiravam apenas nos pés e nos braços. Além disso, penduravam algum objeto na cerca elétrica ordenando que o prisioneiro fosse busca-lo. Não dá para imaginar tamanha crueldade.



Quem não tivesse um comportamento considerado exemplar era aprisonado em celas minúsculas e torturas terríveis eram aplicadas. Uma delas era ficar pendurado por horas, com os braços voltados para trás. Os braços eram imediatamente deslocados e a dor, insuportável.



Tudo começou em 1936, quando alguns presos políticos foram levados para lá. Dois anos depois começaram a capturar os judeus em massa. Em 1940, milhares de poloneses e em 1941 militares soviéticos foram presos, dos quais 18 mil foram fuzilados. Dentre eles, estava o filho de Stalin, que ficou cinco anos debaixo dos olhos de Hitler. Ele queria que um de seus oficiais capturado pelos russos fosse libertado em troca do rapaz. Stalin, disse que seu filho não valia tanto quanto o oficial alemão; e, ele foi morto com o consentimento do "homem de aço". Um monstro.

O pavilhão dos judeus era um lugar sufocante. Acima, os quartos e o banheiro coletivo, onde 400 homens viviam aglomerados em condições sub-humanas.

Foi com o avanço do Exército Vermelho que o mórbido campo de concentração “Sachsenhausen” foi evacuado pelos nazistas, em abril de 1945. Os soviéticos avançaram e ordenaram que mais de 30.000 prisioneiros fossem libertados. Mas, de 1945 até 1950, serviu como acampamento soviético e foi usado para reprimir os militares nazistas. Valas comuns do período da ocupação russa foram descobertas em 1990. Estima-se que pelo menos 12 mil pessoas tenham morrido nesse período.

Na enfermaria, balcões de autópsia foram usados nos primeiros anos do campo de concentração. As pessoas eram mortas fuziladas, mas no atestado de óbito vinha escrito que tinham sofrido algum outro evento, como parada cardíaca ou pneumonia. Porém quando o número de mortos se tornou incontrolável, essa heresia foi abandonada.

Visitar um lugar como esse, em uma viagem, para muita gente é absolutamente dispensável. Realmente, é deprimente olhar para esse tipo de atrocidade e ver do que o homem já foi capaz. Quanto sofrimento por causas tão pouco nobres. Assim vive a humanidade.


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COMENTÁRIOS

  1. Como fica perto de Berlim, talvez vá lá fazer uma visita.
    Obrigado, uma vez mais, pela partilha.

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  2. É um lugar muito pesado, mas é perto de Berlim. É história pura. PAra ir até lá fui com um grupo que sai do Satrbucks que fica em frente ao Portão de Brandenburgo. A visita leva de 4 a 5 horas e a guia é uma historiadora. Sabe dar informações incríveis, que não constam nos livros. O preço é excelente - 12 euros. Toma-se a linha S1 de trem com destino ao norte e a descida é na última parada do trem, em Oranienburgo. Vale a pena ir com esse grupo. É um passeio duro. Esteja preparado para entrar em contato com os piores momentos da humanidade.
    Claudia

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  3. Obrigada pelas informações acerca deste campo!
    Tambem gosto muito de viajar e visitei ja alguns campos de concentração. Porque apesar de estarmos de ferias nao podemos esquecer estas atrocidade e devemos prestar a devida homenagem as vitimas visitando os campos.

    Parabens pelo blog :)

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  4. Barbara, realmente visitar um campo de concentração é muito duro, mas é parte da história. Visitei seu blog também e gostei muito. Lugares super interessantes.
    Bj.
    Claudia

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  5. Obrigada Cláudia, volte sempre ao meu blog. Eu farei o mesmo com o seu! Gostei bastante e irei ler mais ainda :)

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  6. As informações estão ótimas... mas juro que fiquei meio depre após ler :+(
    Coisas que n. podemos esquecer que aconteceram - JAMAIS!!!
    Intolerância e preconceito é um mau sem fim :+(
    Kiss,
    KK

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  7. KK. O lugar é muito pesado. A história mostra uma face cruel nos campos de concentração. Imaginar que isso realamente existiu...é muito louco.
    Bj
    Claudia

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  8. Parabens!! Seu Blog é muito bom!!
    Realmente é um passeio muito depressivo visitar um campo de Concentraçao... A primeira vez que visitei um foi o Campo de Buchenwald perto de Weimar era inverno uns -8C, lá eles tambem realizavam experiencias médicas, é assustador ver a que ponto o ser humano pode chegar!!

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  9. Que bacana o blog de vocês. Têm muitos lugares interessantes da Ásia. Adorei e já postei na minha lista de blogs.
    Obrigada pela visita.
    Claudia

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  10. André Gustavo de Araujo Fernandes5 de outubro de 2009 às 11:24

    Eu fui em Sachsenhausen... não há palavras para descrever o quanto depressivo e sombrio é aquele lugar!!!

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  11. Uma visita basta! Depois de uma ida até um campo de concentração, a gente não quer mais entrar em outro. Obrigada pela visita. Volte sempre.
    Claudia

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  12. Visitar o campo de Sachsenhausen é uma oportunidade para a reflexão. Até onde a estupidez humana e o preconceito podem nos levar...
    visitei esse campo em julho de 2009e, como professora de História,gostaria que meus alunos pudessem vivenciar essa experiência, terrível, e ao mesmo tempo, necessária.
    Simone M. P.

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  13. Simone, viajar nos remete a muitos momentos de reflexão. Alguns bons outros nem tanto...
    Cada lugar por onde passo me ensina alguma coisa. Nesse campo de concentração pensei muito sobre os valores de liberdade e respeito.
    Que bom viver em harmonia!!!
    Obrigada pela visita.
    Claudia

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  14. Visitei este campo de concentração, estavam comigo meu marido e dois filhos. Saimos de lá, sem palavras, todos mudos diante da hstória "viva" que visitamos. É triste, mas vale a pena conhecer...

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  15. Claúdia, hoje estava escrevendo sobre o Campo de Concentraçao de Buchenwald que visitamos durante nossa ultima viagem a Alemanha e lembrei desse seu Post eu coloquei um Link para seu Post tudo bem??
    http://mauoscar.com/2009/11/03/buchenwald

    Ps: Estava devendo este post faz tempo, é importante que todos saibam o que aconteceu para que atrocidades como esta nunca voltem a ocorrer.

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  16. Oscar.
    Claro que você pode fazer um link para a matéria sobre o campo de concentração. Vou visitar seu blog.
    Bj
    Claudia

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  17. Nossa,eu descobri esse blog quando procurava informações para meu livro.E achei o post do Campo de Concentração incrível.Foi como se eu estivesse lá vendo tudo aquilo.Obrigada por me proporcionar essa experiencia.Parabéns pelo blog.Se puder(e quizer) seguir meu blog,ficarei honrrada.Parabéns,mais uma vez.

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  18. Carol!
    Obrigada pela sua visita. Sempre que quiser viajar sem sair de casa dê uma passada por aqui.
    Vou visitar você também
    Um beijo
    Claudia

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  19. Em agosto de 2010 fui com um grupo de amigos brasileiros ao Campo de Sachsenhausen. É um clima pesado!Foi um roteiro importante de nossa viagem por se tratar de História, e uma História que nunca queremos que se repita. Ao entrar e caminhar até a torre de Comando A, somente ouvíamos os nossos passos. Não havia qualquer tipo de manifestãção que pudesse nos lembrar que estávamos felizes, em férias e a passeio. O sol não se mostrou durante toda a visita. Ao chegar ao portão onde vimos a frase "o trabalho liberta", um corvo traçou o céu e emitiu o som que vcs podem imaginar. No final da visita, uma leve chuva caiu como se nos lavasse. Impressionante imaginar como há cerca de 65-70 anos as pessoas eram conduzidas àquele local. Mas é História. Valeu a tristeza em nossos olhares!

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  20. Parece que o sol é proibido de se mostrar em Sachsenhausen. No dia que fui estava nublado e também choveu. É impressionante o peso desse lugar.

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  21. Eu também estive lá, agora em outubro de 2010.
    É um local onde podemos refletir sobre o ser humano, o que ser um ser humano. Só que ao contrário de muitos o que senti foi uma paz imensa, como se todos que por lá passaram não tinham mais o que sofrer, martírio, mutilações, desespero, lágrimas... Sofreram para que muitos não deixassem passar desapercebido o que nós,humanos somos capaz e principalmente alerta-nos sobre a necessidade de não deixarmos que isso aconteça novamente. JAMAIS.

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  22. Olá!estou estudando a segunda guerra e encontrei seu blog durante uma pesquisa.Achei ótimo e me ajudou muito.Apesar de tudo que aconteceu nesse lugar, eu acho que é bom saber o que acontecia para que nunca se repita.Adoro viajar e, quando for à Alemanha não vou perder esse passseio. Muito obrigada e parabéns pelo blog!

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  23. Oi Julia!
    Fico feliz em ter ajudado nos seus estudos. Volte sempre!
    Bj
    Claudia

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  24. Olá! Qual o nome desse grupo que sai de Satrbucks e vai pra lá? Obrigado!

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  25. Ly,

    Não lembro do nome da empresa, mas nos hotéis eles informam. Ou se for até o Starbucks (que é num ponto bem central da cidade) vc consegue entrar no grupo sem dificuldade.

    Vale muito a pena. Barato e excelente. Grupos pequenos.

    Bj

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  26. Nossa! Desconhecia...
    Que horror que fizeram com os pobres judeus...

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  27. Estive lá. Foi um dos momentos mais impactantes de toda minha vida. Vale a pena verificar in loco até onde pode ir a Barbárie humana.

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  28. Estive em Berlim para correr a Maratona e fui ao Campo de Concentração.
    Ouvir que os prisioneiros corriam 40km nas britas para testar os sapatos foi cruel.
    Vale a pena e tem áudio em português.

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  29. Fui por conta própria e foi um tempo incrível de reflexões.

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