JAMBO JAMBO, TANZÂNIA!

O mosaico linguístico da Tanzânia é inacreditável. Mais de 100 idiomas são falados nesse país da África Oriental que tem o tamanho aproximado do estado do Mato Grosso. Pois foi com um sonoro “Jambo!”, que significa “olá” em suaíli, que desembarquei no pequenino aeroporto de Seronera, se é que dá para chamar de aeroporto. Talvez se encaixe melhor no conceito de “pista de pouso”. Mas isso não faz diferença uma vez que eu estava aterrissando no sonho de conhecer o Serengeti, maior santuário de vida selvagem do planeta.


Leões no Parque Nacional do Serengeti, Tanzânia.

Além de proporcionar safáris incríveis, a Tanzânia também encanta pelas praias paradisíacas - especialmente na ilha de Zanzibar, terra natal de Freddie Mercury - e atrai aventureiros que desafiam os mistérios do Kilimanjaro para alcançar o topo da montanha mais alta da África. Diversidade e exuberância definem esse país que ostenta uma beleza natural incomparável e é marcado por uma tremenda pluralidade cultural. Basta ver a quantidade de idiomas. É que a vizinhança é grande e tem raízes entrecruzadas. A Tanzânia faz fronteira com Uganda, Moçambique, Malaui, Zâmbia, Burundi, Congo, Ruanda e Quênia.

Grande Migração, Tanzânia.

Mas é exatamente no norte do país, entrando pelo sudoeste do Quênia, que fica o gigantesco Parque Nacional do Serengeti, Patrimônio Mundial da Unesco desde 1981 e palco da Grande Migração.

Mas o que é Grande Migração? É simplesmente o maior espetáculo do mundo animal na terra. Grandes manadas somando mais de 2 milhões de animais - majoritariamente gnus acompanhados de zebras, gazelas e outras espécies de mamíferos - transitam por uma rota circular de 800 quilômetros que passa principalmente pela Tanzânia, mas também numa pontinha do Quênia, indo no sentido horário do Parque Nacional do Serengeti à Reserva Nacional Masai Mara, num fluxo migratório constante em busca de água e alimento.

Mais de 1 milhão de gnus circulam pelo Serengeti durante a Grande Migração.

Ao contrário do que se imagina, a Grande Migração nunca para, pode ser vista durante o ano todo, mas claro que há melhores épocas e melhores lugares para encontrar a massa de animais em deslocamento.

Nos meses de janeiro, fevereiro e março, por exemplo, os animais desaceleram a caminhada durante a estação do nascimento dos filhotes permanecendo mais tempo nas planícies de Ndutu, localizadas na Área de Conservação de Ngorongoro, no sudoeste do Serengeti. Já, abril e maio são meses bastante chuvosos o que pode atrapalhar a viagem. De julho a outubro os animais se movimentam pelas regiões de Kogatende e Lamai quando enfrentam a tensa travessia do rio Mara. Talvez você já tenha visto fotografias espetaculares ou documentários que mostram essa epopeia. Nos meses de agosto e setembro uma parte dos animais se desloca em direção ao Quênia. Nos demais períodos, a concentração das manadas não é tão densa, o que causa menos impacto, pois não haverá uma grande massa em movimento, apenas grupos isolados.

Travessia do rio Mara e o risco dos crocodilos.

Mesmo que haja uma certa previsibilidade saiba que a rota é passível de mudanças a cada ano, pois a manada é conduzida por uma bússola instintiva que orienta a direção, uma espécie de sexto sentido guiado pelo campo magnético da terra, o qual os cientistas denominam de “magnetorrecepção”. Assim sendo, é preciso contar com um pouquinho de sorte além de escolher datas e locais de hospedagem com muita atenção. Afinal, o Serengeti é imenso, tem aproximadamente 30 mil quilômetros quadrados, o que equivale ao tamanho do estado de Alagoas.

Parque Nacional do Serengeti visto num passeio de balão.

Cheguei à Tanzânia no mês de setembro, depois de ler bastante sobre o melhor período para ver a Grande Migração no Serengeti. Dickson, motorista do Four Seasons Safari Lodge Serengeti, aguardava em Seronera com uma cesta de piquenique repleta de biscoitos, frutas secas, chá, café e champagne numa Toyota 4x4 fechada designada exclusivamente para a minha família pelos próximos dias. Do lado de fora do carro, na savana, degustei o chá lentamente sem imaginar os próximos capítulos. O trajeto dali até o hotel seria de 45 minutos.

Nosso motorista Dickson pilotando o Toyota 4X4.

Bastou andar alguns metros e meus olhos custaram a acreditar quando um grupo de hipopótamos saiu da água sem pressa. Dickson imediatamente parou o carro e esperou até que os animais afundassem novamente do outro lado do lago, enquanto isso contou que estão em extinção, são animais herbívoros, chegam a pesar até 3 toneladas, ficam praticamente o dia todo na água para manter a temperatura do corpo estável, acasalam e têm filhotes na água, comem durante a noite quando não tem sol, estão entre os bichos mais perigosos da selva, matam mais de 500 pessoas por ano e correm até 30 km por hora. Como membro de uma tribo Maasai, ele conhecia profundamente o comportamento dos animais e inspirava muita segurança. Sabia exatamente a hora de observar e a hora de se retirar.

Impressionante a proximidade com os animais no Serengeti.

Isso era só o começo. Logo à frente, girafas comiam folhas no topo das árvores sem se preocupar com o carro ali parado. Cem fotos e seguimos até encontrar uma manada de elefantes cuidando de seus filhotes. E assim, o trajeto que era para ser de 45 minutos levou mais de duas horas entre cliques e suspiros. Nesse momento entendi porque o Parque Nacional do Serengeti é considerado o maior santuário de vida selvagem do planeta. Vi hipopótamos, elefantes, gazelas, gnus, zebras, leões, girafas, hienas, javalis, macacos, búfalos e muitos pássaros a poucos passos do carro.

Dezenas de elefantes pelo caminho.

Dos “Big Five”, considerados os cinco animais mais temidos da savana (elefante, rinoceronte, búfalo, leão e leopardo) três cruzaram meu caminho já na largada. Foi um belo game drive de boas-vindas. Nunca vi tantos animais selvagens na vida. E olha que já fiz vários safáris pelo mundo.

As girafas representam a elegância na savana.

Passava das 3 horas da tarde quando cheguei ao Four Seasons Serengeti Lodge. Localizado dentro do parque nacional, o hotel é um tesouro tanto para quem quer fazer safáris inacreditáveis como para ver de perto a Grande Migração. Foi listado como um dos Top 10 Safari Lodges da África, pela Travel + Leisure’s World’s Best Awards 2022.

Meu cantinho no Four Seasons Serengeti.

Mais uma vez fui gentilmente recebida com a expressão “Jambo!”, que me aproximava da cultura local e me fazia sentir acolhida. Um drinque de boas-vindas no belíssimo lobby, uma caminhada de exploração para me situar entre os salões iluminados por janelas envidraçadas tão necessárias, uma vez que o lodge está no meio da savana e a vida selvagem corre solta pelas planícies sem fim. Aproveitei para bisbilhotar a lojinha que vende artesanato produzido na região e tem tudo que se possa eventualmente precisar.

Lobby Four Seasons.

O estilo rústico-chic do Four Seasons Serengeti dá o tom e garante a conexão com a natureza. A paleta de cores neutras, com elementos naturais como palha, madeira e pedra, faz referência ao entorno ao mesmo tempo em que cria ambientes elegantes ornamentados com design africano. Vale ressaltar que o hotel se destaca em relação à sustentabilidade e responsabilidade social. Já recebeu vários prêmios de reconhecimento pelas ações de conservação e apoio comunitário.

Piscina da vila presidencial.

Ao todo são 77 acomodações, incluindo 5 vilas. A vila presidencial foi inaugurada recentemente com 3 quartos servidos por mordomo, carrinho elétrico e a vigilância constante de um ranger. Para ir da área comum (onde ficam lobby, salas de estar, lojinha, piscina, restaurantes, Discovery Center e joalheria que vende peças em Tanzanita, a pedra preciosa encontrada apenas na Tanzânia) até as acomodações há uma passarela de madeira elevada do chão.

Acesso aos quartos feito sempre na companhia de de um segurança maasai.

Os quartos são espaçosos, lindamente decorados, garantem uma bela noite de sono em camas imensas, com lençóis e travesseiros que abraçam, mini bar bem equipado e têm varandas abertas, algumas com piscina privativa. A paisagem está sempre ao alcance dos olhos. Recomendo que escolha sua suíte no bloco 4 chamado de Nne - bem em frente ao laguinho onde os animais bebem água e perto do restaurante Boma Grill de cozinha regional - ou no bloco 5, chamado Tamo, também de frente para o lago, mas tendo o spa Kani “imperdível” a alguns passos.

Apartamento com piscina privativa.

O Four Seasons Serengeti tem estrutura consolidada há dez anos e está sempre se renovando. Aceita crianças a partir de 2 anos com excelente estrutura. A começar pelos carros fechados, o que não é tão fácil de se ver nos safáris africanos e um parquinho infantil. Já o Discovery Center agrada não só os pequenos como os adultos. É uma mistura de galeria de arte, museu e cinema que proporciona vivências interativas e oferece documentários espetaculares sobre a vida selvagem na região e sobre o povo da Tanzânia. Achei interessante que os hóspedes podem alugar equipamentos fotográficos com lentes poderosas para captar momentos na selva dignos de National Geographic e até contratar um fotógrafo para garantir a qualidade nos registros. 

Discovery Center.

Nesse tipo de viagem em que você estará cercado pela natureza bruta, a experiência como um todo dependerá da proposta do hotel. Portanto, essa escolha deve ser minuciosa. E quanto a isso, o Four Seasons Serengeti é um oásis perfeito. O hotel se encarrega de tudo desde a rotina dos safaris, passando por passeio de balão, drinques ao pôr do sol à beira da icônica piscina, spa e até jantares românticos.

Jantar à beira da piscina.

Ter um guia/motorista maasai fez toda a diferença. Aprendi muito sobre o comportamento dos animais durante os safáris e visitei uma tribo com ele.

Os povos dessa etnia vivem peregrinando entre o norte da Tanzânia e o sul do Quênia. São nômades, considerados “guardiões do Serengeti” e por isso mesmo têm permissão de atravessar a fronteira livremente. Vestem-se com roupas coloridas, tendo o vermelho como símbolo e usam adereços imensos confeccionados pelas mulheres. Elas também são as responsáveis por construírem suas casas com estacas de madeira cobertas de barro misturado com esterco. Vivem em pequenos grupos, em assentamentos denominados boma.

  
Tribo maasai.

Quem autorizou a entrada e me recebeu foi o chefe da tribo Alais Kishau. Fui gentilmente convidada a dançar com as mulheres e a conhecer suas casas, que não têm janelas, apenas uma porta. Mulheres e homens dançam de modo diferente. Os homens têm na “dança dos saltos” um ritual que marca a entrada na fase adulta, além de serem submetidos a circuncisão. Já, as mulheres, sofrem com a “mutilação genital” mesmo que seja proibido pelo governo da Tanzânia e do Quênia. No filme “A Massai Branca” estrelado por Nina Hoss, a cena é impactante. O Four Seasons dá suporte às meninas através do projeto Hope for Girls Safe House.

Atualmente as tribos vivem da venda de adereços.

Estudar o destino faz parte da minha preparação para alçar novos voos. Livros, filmes e documentários me ajudam a ter uma experiência mais significativa. Se estiver viajando com crianças (ou não) reveja “O Rei Leão”, desenho da Disney que espalhou a expressão Hakuna Matata pelos quatro cantos do mundo, uma filosofia que diz que a vida é bela e mesmo que haja problemas, vai ficar tudo bem. A Tanzânia acrescentou beleza aos meus dias. Viajar nos transforma e nos ensina a olhar para o mundo com novas lentes.

Hakuna Matata.

OUTRAS DICAS IMPORTANTES

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

Passaporte com validade mínima de seis meses após a chegada, atestado de vacinação internacional contra febre amarela, e, no momento esquema vacinal completo contra Covid-19 além de teste PCR realizado até 72 horas antes da chegada. Essas regras têm mudado com frequência. Informe-se antes da viagem. O visto de entrada deve ser feito online e custa 50 dólares por pessoa.

COMO CHEGAR

Nesse momento pós pandemia, a malha aérea para a África está reduzida. É possível voar de São Paulo via Etiópia, com a Ethiopian Airlines, o que teria sido uma opção mais rápida. No entanto, optei por voar na Q-Suite da Qatar Airways, pelo conforto. Foram 15 horas de São Paulo até Doha seguidos de 6 horas até Kilimanjaro e nova conexão com a Coastal até Seronera, em um avião monomotor Cessna com limite de bagagem estabelecido em 20 quilos por pessoa somando mala de mão e mochila.

É preciso encarar aviões muito pequenos na Tanzânia.

QUANDO IR 

Depende da sua expectativa. Se quiser fazer safari e ver uma infinidade de animais, evite apenas os meses mais chuvosos, abril e maio. No mais, a temperatura equatorial é praticamente constante ao longo do ano. Mas, se a Grande Migração estiver nos seus planos janeiro, fevereiro e março é o período em que os animais param nas planícies de Ndutu para o nascimento dos filhotes. Para presenciar as manadas fazendo a travessia do rio Mara então vá entre julho e outubro. Saiba que a logística dessa viagem é complexa. Os deslocamentos precisam ser bem programados.

ONDE FICAR 

No Serengeti, Four Seasons Lodge Serengeti, Singita Sabora Tented Camp ou Lemala Kuria Hills Camp.

Em Zanzibar, Zuri Zanzibar

O QUE LEVAR

Como a temperatura varia muito ao longo do dia (em setembro peguei variação de 120C a 350C) convém levar roupas que possam ser sobrepostas em camadas. Dê preferência aos tons neutros como bege e verde para não chamar atenção dos animais. Mangas longas e calças compridas auxiliam a proteger dos mosquitos, uma vez que há preocupação com malária. Todos os hotéis oferecem repelente de insetos. Saias e vestidos não funcionam muito bem em safari. Quanto ao calçado dê preferência a botas confortáveis para caminhar na savana. Leve roupa de banho pois os hotéis costumam ter piscina para a hora em que o calor bater. Também recomendo levar óculos e chapéu. Saiba que os hotéis costumam ter serviço de lavanderia incluído no valor da diária, uma vez que os aviões pequenos limitam o tamanho da mala. Para passar um mês na África viajei com mala de mão de 12 quilos e mochila.

PRÓXIMA PARADA RUANDA 


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COMENTÁRIOS

  1. O que dizer de uma matéria linda, totalmente em sinergia com sustentabilidade, preservação, preocupação com o outro , universo e natureza e sem falar nas dicas tops ..
    Só posso dizer África um dia chego aí e vai ser tudo !!!!

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