Por muito tempo, Barra dos Remédios, foi um segredo sussurrado pelo vento apenas aos que buscavam destinos de beleza intocada para uma pausa em areias off-grid. Agora, esse paraíso discreto ganha um ponto de exclamação com a abertura da Casa Daia. Um hotel ao melhor estilo quiet luxury que troca o excesso pela essência e a pressa pela serenidade, no canto exato em que o extremo oeste do Ceará flerta com o Piauí. Uma região belíssima entre dunas, mar, rios, caatinga, coqueiros, carnaúbas, sol, vento e muita gente boa acomodada num Brasil que faz a alma sorrir de encantamento.
UMA PRECE AO VENTO
A Casa Daia não se apresenta simplesmente como um hotel sofisticado em uma região remota do Brasil. Vai além. É um manifesto ao slow living, que ecoa as tradições do Ceará enquanto mira no cuidado com as comunidades do entorno e com o futuro do nosso planeta. É o reflexo de um projeto de reequilíbrio de vida do empresário Eduardo Hargreaves, depois de passar por um burnout causado pela carreira agitada que levava no mercado financeiro. Para desacelerar, ele foi em busca de bons ventos, entrou no ritmo das marés, se encantou pelas curvas do Ceará, fez do kite terapia e decidiu retribuir o presente que a vida lhe deu.
Comprou uma antiga propriedade rural, de 220 hectares, inicialmente para plantar sua própria casa num refúgio entre o rio e o mar, e logo veio a certeza de que precisava dividir esse segredo com mais pessoas. Localizada a 124 quilômetros do Aeroporto de Jericoacoara (1h40 de carro) e a 87 do Aeroporto de Parnaíba, no Piauí, em meados de 2025 nascia a Casa Daia, nome que tem como referência o pássaro símbolo da região, a “jandaia”. Foram alguns anos de trabalho até o momento de receber os visitantes com uma estrutura sustentável, autêntica e muito gentil.
Desde o momento em que o carro entra pelo portão da Fazenda Barra dos Remédios é fácil perceber que por ali os sorrisos são fartos e a arquitetura se curva à paisagem, em vez de a dominar. O projeto prioriza a integração com a natureza e aposta na luz natural, ao mesmo tempo que utiliza uma paleta de cores terrosas e materiais orgânicos - madeira de reflorestamento, palha e tecidos rústicos - que convidam ao aconchego. O luxo da Casa Daia mora na simplicidade.
SIMPLES ASSIM
As sete acomodações - três suítes e quatro bangalôs com piscinas privativas - são verdadeiros santuários particulares, onde o conforto é levado ao nível de arte e a consciência ambiental é a regra. Grandes janelões de vidro emolduram o verde exuberante e deixam o azul do céu entrar, transformando cada amanhecer, em uma experiência de meditação. O design de interiores tem curadoria impecável com peças que celebram o artesanato regional, além de oferecer bem-estar extremo.
Nas áreas comuns, lounges abertos ao vento e uma grande sala de estar compartilham espaço com a piscina de borda infinita que parece se derramar sobre a vegetação nativa, enquanto convida ao ócio contemplativo. É o local perfeito para ler um livro, refletir, bater bons papos ou simplesmente observar a cadência serena do tempo testemunhada pela dança das folhas das carnaúbas. Essa palmeira endêmica do semiárido do Nordeste é presença constante no Ceará e no vizinho Piauí, sendo chamada de “árvore da vida” por oferecer muitos recursos ao homem.
Mas além de belas instalações a Casa Daia oferece uma série de experiências singulares em parceria com a comunidade, desde esportes de vento - kite, wind, foil - até a imersão nas raízes locais - catar sururu, acompanhar a pesca artesanal, participar de festas populares, visitar os vilarejos do entorno, andar de quadriciclo pelas dunas, mergulhar em praias desertas -, incluindo uma bela gastronomia conduzida pelos filhos da terra e que prioriza os insumos zero quilômetro numa ode ao frescor.
SABORES DA TERRA
O ritual do café da manhã, servido sem pressa com frutas nativas, pães assados na hora, tapiocas rendadas com queijo sertanejo, bolo de puba e tantas outras delícias, transforma o amanhecer em um momento de pura celebração. Tudo isso embrulhado por uma hospitalidade deliciosa. A equipe é na sua maioria oriunda da região e mesmo que estejam ingressando recentemente no universo da hotelaria estão bem alinhados com a proposta. Entregam o melhor!
A experiência gastronômica é o coração pulsante da Casa Daia. É ali que o aclamado chef Fábio Vieira combina sua cozinha autoral com o melhor da regionalidade em versão farm-to-table e ocean-to-table. Seja no almoço ou no jantar os pratos chegam à mesa tão perfumados e caprichados que só de pensar já provocam saudade no paladar: snack de tapioca com salpicão de marisco, pastéis de camarão, tartare de carne de sol, arroz caldoso com polvo, peixe na brasa, arraia gratinada; sem esquecer das sobremesa como a cocada de formo com sorvete de tapioca e a cartola feita com banana e queijo do sertão polvilhados com açúcar e canela, um clássico das casas de engenho.
NO BALANÇO DAS HORAS
Sem pressa, o relógio parece tiquetaquear em uma lógica própria em Barra dos Remédios comandado pelo sol, pela lua, pelas marés e pelo vento. É nesse balanço das horas que Casa Daia em parceria com a comunidade, convida a entrar na dança.
Um leque de experiências protagoniza a cena e torna a viagem muito especial. Acompanhar a cata do sururu com as marisqueiras da região é mais do que especial. Mulheres fortes e cheias de histórias pra contar tiram seu sustento das areias do rio com uma tradição passada de geração em geração. Para completar, o sururu catado por nós foi transformado em iguaria pelas mãos de Francisco chegando à mesa na forma de adereço para um snack de tapioca e para um belo fettuccine. Explosão de sabor e conexão profunda com os costumes da terra.
Descansar na rede à sombra das carnaúbas e mergulhar nas piscinas naturais ou no marzão sem fim das praias desertas é parte natural do programa, mas a cereja do bolo é chegar ao vilarejo de pescadores da Praia Nova de quadriciclo. Entre uma prosa e outra ao redor das canoas batizadas com nomes de mulher - como Rosinha do Mar e Casteliana do Mar -, as redes vão sendo preparadas para entrar em ação. Como se não bastasse o colorido exuberante das canoas, o céu vai ganhando nuances alaranjados ao cair do dia e do alto das dunas a poesia se revela.
Acompanhar a “despesca” em Bitupitá é outro momento que garante um mergulho profundo nas raízes. De barco chega-se aos currais do Ceará feitos com estacas de madeira e redes de pesca fixadas no mar. Uma tradição que atravessa os séculos e aproveita o fluxo da maré para trazer o sustento dos pescadores. Os peixes fresquíssimos de Bitupitá abastecem a mesa da Casa Daia.
Durante a estadia tive a sorte de presenciar a 16º Regata de Canoas de Picada Nova. Uma festa popular aguardada com ansiedade pelos moradores da região que se reúnem para celebrar o mar, encontrar os amigos, dançar forró, comer, beber e conhecer a equipe vencedora do ano que leva um bom prêmio em dinheiro.
Aberto recentemente, intimista na medida certa e regenerativo por vocação, o hotel-experiência Casa Daia é o ponto de encontro perfeito para quem busca mais do que uma viagem; busca um reset. É um retiro onde a mente se acalma, o corpo se reconecta e a alma é nutrida por uma beleza simples e grandiosa. Se você procura um destino que combine a exuberância da natureza intocada com a delicadeza de uma hospitalidade genuína, este é o endereço. A Casa Daia é a prova de que o verdadeiro luxo está em saber encontrar o equilíbrio nas pausas, entre uma maré e outra.
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